Uma palavra insignificante mas que, de facto, tem um poder devastador para a sua vítima. É uma palavra que tem o potencial para fazer qualquer idiota perceber que é um idiota e isto é algo verdadeiramente aterrorizante. Quem já teve o vislumbre da expressão facial referente a todo o processo psico-neurológico que um idiota faz para tomar consciência de que o é, bem, isso é um momento que se pode dizer que vale toda a pena guardar para a eternidade.
Geralmente, uma pessoa normal, quando toma uma decisão, fá-lo com um propósito, uma razão ou um motivo. Mas há pessoas que vivem toda a sua vida sem saber o porquê do que fazem.
Por exemplo, outro dia, em plena rotunda AEP, três agentes de segurança, decidiram parar o trânsito que vinha na rotunda para deixar entrar na mesma quem vinha no sentido norte-sul causando um engarrafamento fantástico dentro da rotunda e nos três outros acessos para quem queria entrar (ou sair) dela. Eu gostaria de ter perguntado o porquê aos senhores agentes.
Noutra circunstância, estava eu a atravessar uma passadeira de uma avenida, quando um acéfalo ser ao volante, decide acelerar comigo já no meio da passadeira obrigando-me a saltar para trás e, mais engraçado, foi rir-se com ar de gozo quando me passou pela frente. [Já agora, aproveito para dizer que, para infelicidade de muitos (o que me dá um perverso prazer), ainda estou inteiro e vivo.] Também gostaria de perguntar porquê a este tão ilustre exemplo de civismo à portuguesa. É que, se ao menos o fulano me conhecesse, ainda podia alegar que me queria, de facto, ajudar a resolver o meu agnosticismo crónico, mas não, ele não me conhece. Desta forma, fico extremamente curioso em perceber porque é que alguém arrisca ir para a cadeia sem motivo.
O porquê, nestes dois casos, teria sido uma pergunta devastadora. Imagino já aqueles olhinhos a moverem-se lateralmente, de um lado para o outro, a tentar raciocinar e arranjar uma explicação lógica e séria para as suas acções.
De facto, o porquê é uma pergunta devastadora. Regra geral, tende a revelar o quanto estúpidas as pessoas realmente conseguem ser.
Contudo, não se julgue que o poder desta pergunta se resume a isto. Quando esta pergunta é feita a alguém que realmente pensou no que faz, pode acontecer seja quem faz a pergunta que passe por idiota. Isto porque, por vezes, não é a pergunta em si que é devastadora mas sim a resposta que se ouve. Isto pode acontecer por dois motivos: ou porque a resposta é de tal maneira desconexa que nos trucida a mente, ou, caso mais grave, porque ficamos sem saber o que fazer com a resposta.