Desvarios e desilusões...

Após um longo intervalo decidi vir aqui perder um bocadinho de tempo para deixar qualquer coisa... Assim a modos como abrir uma janela de uma casa para evitar que ela ganhe cheiro a mofo e impedir acumulações exageradas de pó. Fiquei, no entanto, perdido sem saber bem o que escrever. Até cheguei a pensar que nada tinha para dizer.. E, de facto, não tenho.

Repare-se: o país continua louco. O governo não mudou e nem sequer muda. Os partidos da oposição continuam a fazer campanha eleitoral e a sabotar tudo e todos, incluindo, a eles próprios. A justiça continua igual a ela própria. A título de exemplo, faço cito o que Rita Ferro disse no seu programa de rádio do qual agora não me lembro do nome e, por imposição de uma doença chamada perguicitis agutis, me recuso a ir procurar. Disse ela, então, que um tribunal português condenou a não sei quanto tempo de prisão um rapazito por ter feito download de uma música e por a ter partilhado. Disse ela também, e muito bem, que houve muita rapidez para condenar um pobre desgraçado mas não há nem rapidez nem vontade de resolver casos como o da Casa Pia. A educação, agora em compasso de espera para as aulas recomeçarem, continua igual. E vou poupar o leitor com mais coisas deste patético país. Creio bem que todos saibamos no estado que estamos e tudo o mais, independentemente de só protestarmos ou de até irmos fazendo alguma coisa para que as coisas se resolvam ou ainda que as façamos só por e para interesse próprio.

Enquanto isto, alterei o título do posto de Desvarios para Desvarios e desilusões. Se calhar desilusões está errado e tristeza seria um melhor termo. Recentemente comecei a trabalhar com alunos mais novitos, algo que não tinha pensado e que até tentei evitar mas, quando surgiu a oportunidade lá acabei por aceitar. Tem sido uma experiência no mínimo interessante, se bem que continuo a preferir trabalhar com adultos. No entanto, esta experiência permitiu que eu tomasse contacto com uma realidade que muito me assustou e até surpreendeu. 


Já sabia e esperava que estas novas gerações fossem mais desleixadas e, peço que me desculpem pela brutalidade do que vou dizer agora, mais estúpidas. Não porque sejam na realidade menos inteligentes daqueles que antes deles vieram. Não, muito pelo contrário. Potencialidade é coisa que não lhes falta mas, por razões que ainda não percebi muito bem, não têm motivação para nada e objectivos de vida é um conceito que eles nem sequer têm. Nos mais jovens alunos que tenho ainda consigo perceber. Devido à idade, a única coisa que lhes passa pela cabeça é brincadeira. Maldita será esta vil sociedade que insiste, de uma maneira ou de outra, e por mero self-interest dos adultos roubar-lhes a meninice própria e hoje possível de ser gozada em pleno. No entanto, nos mais velhos, naqueles que já têm de pensar no seu futuro, quanto mais não seja no escolar, nesses vejo falta de... bem, tudo. Uns não sabem o que querem e os que sabem aspiram a ser medíocres. Não há mais sonhos de grandeza típicos da juventude naquelas cabecinhas. Resignam-se à realidade a serem apenas meros e médios seres humanos. 

Ultimamente, com isto me tenho preocupado. Com os adultos sempre tentei quebrar isto. Um elogio, uma palavra de incentivo ou até mesmo um desafio a serem melhores, quanto mais não seja nas minhas aulas, faz milagres. Certo que o esforço para mim é bem maior do que apenas palrar mas, no entanto, a satisfação de, no final as coisas correrem bem e eles virem o quanto foram capazes, é igualmente maior. Infelizmente, quando as coisas correm mal e o incentivo não foi suficiente ou o desafio capaz de os puxar, a desilusão que se instala é devastadora. 

Mas agora e com estes jovens? Desafiá-los? Incentivá-los? Bem, resulta, mas por mais que trabalhem e se esforcem falta-lhes a chama. O fogo que arde na juventude e nos queima para a velhice neles não vive. E porquê? Depois de muito revirar a mente e de pensar bem e de tentativa e erro nas aulas, creio que percebi o que lhes falta: afecto, auto-estima e, sobretudo, individualidade. 


 A sociedade em que vivemos e que os pais e avós deles criaram, rouba-lhes isso tudo. A começar pela família que não sabe educar os filhos. Não lhes dá os afectos que eles naturalmente precisam. Compensam com o acessório que são os bens materiais, roupa, sapatos, telemóveis... Falta-lhes auto-estima porque na escola, muitas vezes, os professores (e seja com justa-causa ou não) palram as aulas em vez de fazerem dela um espaço de self-improvement. Finalmente, falta-lhes a individualidade porque não há hoje na sociedade espaço para as diferenças, espaço para o pensamento livre, sobretudo aquele que é contrário à opinião dominante. A roupa é e tem de ser igual à dos "Morangos com Açucar" ou correm o risco de ser insultados e expulsos do grupo. A comida é aquela feita em massa nos centros comerciais, aquela que nada mais é do que enfarda porcos para a matança. Em todo o lado, casa e escola, os jovens são quebrados para serem mais facilmente dominados e depois assimilados por esta cultura neo-liberal e conservadora que apenas serve para alguns manterem o seu estatuto e posição social. 

Que nos estávamos a matar a nós [adultos], isso já não era novidade, mas nunca antes se submeteu a juventude a tanto controlo social, a tanta regra e punição. Nunca antes se tentou tanto normalizar os mais novos. No dia que se acabar com a rebeldia típica dos mais novos, o mundo ficará negro. Negro pois nada jamais mudará. Quem muda o mundo são os mais novos pois são eles que, por ainda não estarem "normalizados", impõem novos padrões e maneiras de agir na sociedade. Assim foi até hoje. No futuro, pelo que vejo, não será assim. Fico triste.

P.S.: Para quem não tinha nada para dizer escrevi um testamento.

P.P.S.: Sei que o texto está ensopado de anglicismos mas não me apeteceu rebuscar a mente à procura dos termos em Português. 

P.P.P.S.: Também não reli o que escrevi e acho que não o vou fazer. Erros, incoerências de discursos que eventualmente possa haver... Sugere-se que assobiem para o lado ou escolham esse momento do texto para beberem um copo de água fresca e que depois recomecem no paragrafo seguinte. XD

Moody’s revê em baixa rating de Portugal - Economia - PUBLICO.PT

E o Reino Unido e EUA... Esses não são alvo de revisão em baixa porquê? Alguém já olhou bem para as dívidas dos dois e para o quanto mal é que estão as economias deles? Mas andam aqui a tapar o sol com a peneira?

Notícia da BBC: US trade deficit at 18-month high (deficit comercial dos EUA no ponto mais alto dos últimos 18 meses)

A má fé desta agências americanas já está mais que provada. Estes senhores sabem que têm o país deles na bancarrota e, após anos de encherem a pança, agora acordam com os tin-tins nas mãos dos chineses. Então, para salvar a situação, nada melhor que retomar a velha estratégia de destruição da concorrência: o euro e a Europa. Para não variar, os alemães e franceses, que tanto gostam de rigor, exigências e de ordenar a Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia para cortarem nos gastos e se salvarem a eles próprios, aparecem agora a baixar as calças e servir de alivio sexual aos americanos. Enfim, vá-se lá perceber isto.

É claro que isto deixa de ter validade se os franceses e alemães vierem a público dizer que o fazem, não por obrigação ou receio, mas por gosto. É pá, cada um é livre de perseguir a sua própria felicidade.

Moody’s revê em baixa rating de Portugal - Economia - PUBLICO.PT

Red Bull Air Race de Budapeste cancelada - Desporto - DN

Estas coisas são estranhas... Mas será que a organização, agora que já meteu ao bolso dinheiro que chegue quer acabar com o evento de uma vez por todas ou simplesmente anda com uma campanha para ver depois quem dá mais?

Red Bull Air Race de Budapeste cancelada - Desporto - DN

Porque me apeteceu...

imagem retirada daqui.
copyright Mila Zinkova


I huinë vantëa! I huinë ranyëa! Elyë úvélas!

"Vaticano funciona como 'offshore'" - Artes - DN

Só porque achei curioso esta notícia ali perdida e um pouco despercebida...

"Vaticano funciona como 'offshore'" - Artes - DN

Questões de raça



A propósito de uma notícia no JN sobre o PNR onde este pedem mais segurança para uma praia do Estoril culpando certas e determinadas etnias, ou raças como a extrema-direita gosta de chamar, pela insegurança que lá se vive. Mas nem foi a notícia em si que me leva a escrever o post de hoje mas sim os comentários. De facto, até pode haver, do ponto de vista estatístico uma relação entra falta de segurança e algum característica física das pessoas. Isto até posso dar de barato. Contra factos não há argumentos. O que ainda não se conseguiu provar é que esta relação existe realmente.

Em todo o caso, os comentários que alguns cavalheiros por lá deixaram foi aquilo que me atirou para a escrita deste post. Lá falava-se, por ignorância certamente, na expulsão de africanos, brasileiros e, creio eu, que era extensível a todos os emigrantes cá em Portugal. Suponho também que se fosse fazer uma excepção aos de lusitanos de "raça pura". É neste ponto que eu quero focar o post.

Esta coisa da raça pura é algo verdadeiramente hilariante que só ignorantes e mentirosos podem querer perpetuar. Comecemos logo pelo facto de que este conceito de raça é proveniente de além fronteiras e tem como base de raça pura não a "corja" (aos olhos destas teorias) que cá vive em Portugal mas sim a suposta e mítica raça ariana, loira de olhos azuis. Antes de mais o erro começa em querer fazer as pessoas acreditar que esta raça ariana é originária da Europa. Ela tem antes origem na Ásia e os arianos são um povo emigrado logo por eles próprios. O segundo erro vem quando se quer falar na pureza seja de que raça for pois, ao fim de milénios de miscigenação, não há "raça" alguma pura na humanidade. Pode-se chegar mesmo ao ponto de um "branco" ter mais afinidade genética com um africano da Somália do que com um caucasiano.

Interessante também é depois extrapolar esta questão da raça pura para um português o qual é o resultado de uma mistura de raças tal que não há ponta de pureza em todo o território. Desde que Homo sapiens sapiens chegou à península e, segundo os estudos mais recentes, se misturou com o Homo sapiens neanderthalensis que não há pureza racial. Se calhar a pureza a que estes aspiram seria a do Homo sapiens neanderthalensis que seria o habitante mais original aqui da territa. Mas depois disto ainda vieram sucessivas vagas de imigrações de fenícios, gregos, romanos, suevos, visigodos e por aí fora até às imigrações mais recentes. Por este facto o português é uma bonita combinação de povos e genes. Uma combinação que deu origem à diversidade que hoje se vê em território nacional.

Por isso seria interessante este senhores que advogam estas coisas de expulsão de imigrantes e a pureza nacional pensarem melhor que pureza é esta. É que pureza é coisa que nenhum deles tem e se querem ir para a superioridade de raça, então, de acordo com as teorias eugénicas que deram origem aos movimentos racistas por esse mundo fora, a raça superior é ariana, a tal loira de olhos azuis. Por isto gostava também que se fizesse um recenseamento aos apoiantes destas teorias em Portugal para se ver quantos deles é que correspondem à descrição. Dos que vejo na televisão poucos iriam ser membros dessa elite genética.

No meio disto tudo ainda me fico a rir, pois esses que advogam estas teorias que nem eles próprios conhecem, seriam os primeiros se calhar a serem excluídos. Mais ainda me rio quando penso na ironia de que eles que odeiam africanos e outros que tais também pertencem a essas tais "raças inferiores" e eu, que defendo igualdade de direito para todos e que cuspo nesta teorias eugénicas, sou descendente da tal raça ariana, loira de olhos azuis. Aliás, algo ainda muito patente na família.

Interessante seria também imaginar o que aconteceria se, por esse mundo fora, houvesse uma implementação desta mesma ideologia. Já imaginaram uma diáspora em sentido inverso dos portugueses e seus descentes? O país duplicaria a sua população. Creio que depois, com todos os problemas que isso iria trazer, as questões de associar a criminalidade a comunidades de estrangeiros residentes em Portugal, seria a menor das nossas preocupações pois a criminalidade causada pelos regressados que não teriam tecto, trabalho e comida destruiria a sociedade.

Só mesmo uma ignorância e embrutecimento intelectual das pessoas pode levar a alguém defender semelhantes teses.

The Last Airbender - Comentário de Roger Ebert

Porque há maus feitios que têm de ser partilhados...

The Last Airbender is an agonizing experience in every category I can think of and others still waiting to be invented.
- Roger Ebert in Metacritic

Portugal terceiro país que mais cresceu no primeiro trimestre - Economia - DN

Portugal terceiro país que mais cresceu no primeiro trimestre - Economia - DN

Percebe-se porque anda tanto Espanhol e Europeu preocupado com os negócios de Portugal. Começam a temer a concorrência, se calhar com razão. Afinal, este recanto à beira-mar plantado, com 1000000 de almas governou o mundo durante 100 anos e só perdeu o lugar por estupidez própria. Também não vamos esquecer que, dos impérios da era moderna, o Português foi o primeiro a fundar-se e o último a cair. Imagine-se só o pânico dos europeus verem um Portugal com força a nível internacional... Aliás, imagine-se o terror de Espanha de ficar encurralada entre os Pirenéus e uma economia pujante.

Fernando Sobral e a PT/Vivo vs Telefónica

Porque me pareceu sentir um certo eco decidi publicar aqui o artigo de opinião de Fernando Sobral no Jornal de Negócios.

No meio do teatro de sombras em que se transformou o negócio PT/Vivo/Telefónica, o Governo espanhol achou que a Portugal estava reservado o papel de D. Quixote, o cavaleiro que não distingue a ficção da realidade.

Os ministros Miguel Angel Moratinos e Elena Salgado e a Telefónica, transformaram--se em anjos impolutos, escrevendo o argumento. José Sócrates entendeu tarde demais o verdadeiro dilema da PT, entretido com o assalto à TVI numa lógica que um dia será melhor explicada.

Não se preparou, estrategicamente, para o que a Espanha queria e, por isso, a sua reacção foi tardia e disparatada. Mas talvez esteja a tempo de recuperar o equilíbrio político. A sua entrevista ao "El País" mostra um renovado Sócrates que sabe separar o trigo do joio. E que entende o que efectivamente está em jogo, enquanto que atrás das cortinas se continuam a inventar cenários para que tudo pareça um conto de fadas.

O Governo espanhol e a Telefónica, tão amigos das regras de mercado, sabem o que fizeram à alemã E.on quando tentou entrar em Espanha. E sabem como Berlusconi despachou a Telefónica quando esta estava tentada pela Telecom Itália. As leis do mercado têm diferente valor em diferentes épocas.

Mas a ideia espanhola foi genial e lembra quando Maquiavel, para comemorar as vitórias de Florença, comissionou um mural em conjunto a Leonardo Da Vinci e a Michelangelo, sabendo que ambos se odiavam. Conseguiu dividir o poder político e o económico português, enquanto acenava com o cheque.

Agora resta saber quem aplicará o xeque-mate.


Para ser franco, já não me lembrava da história da E.on... Ou seja, os Espanhóis são muito rápidos a correrem que outros lhes entrem no país mas fazem birra de criança quando são impedidos de fazerem o que bem querem. Pior que isto é o facto de que, em Portugal, há sempre quem lhes dê a mão para aniquilarem a concorrência. Não digo isto por questões de interesse nacional. Digo isto por questões de interesse da PT.

Mas, na realidade, se se extrapolar isto para um plano histórico-nacional percebe-se facilmente porque foi tão fácil a Filipe II de Espanha tomar conta do então Reino de Portugal. Infelizmente, os Portugueses têm nos seus genes esta propensão para se traírem a eles próprios, seja a nível politico-nacional seja a nível económico das empresas para as quais trabalham ou, ainda mais caricato, das empresas que são donos.

O que começou na antiga Lusitânia com Viriato e que se repetiu na União Ibérica voltou a acontecer aquando da entrada de Portugal na CEE e volta agora a acontecer, aos olhos de todos, com a PT.

Estou convencido. O grande mal de Portugal é ter muitos portugueses!

Ainda a PT, Vivo e Telefónica

Já tinha falado disto aqui mas não resisto à tentação de transcrever isto do PUBLICO.PT:


O primeiro-ministro explica ter usado a “golden share” a pensar “nos interesses estratégicos da PT” e lamenta que a Telefónica “não tenha negociado com a direcção da PT especialmente tendo em conta a própria história da Vivo, que “começou com um investimento da PT no Brasil, numa decisão estratégica que então foi muito criticada, em 1998”. “Mais tarde a PT convidou a Telefónica a ser sua parceira com 50 por cento. A Telefónica não tem o direito natural de tomar o controlo da Vivo”, afirma, adiantando que respeita a posição do presidente executivo da PT, Zeinal Bava, de discordar do uso da “golden share”. 

 - in Público
Domingo, 4 de Julho de 2010.

A tramóia e má fé vindas do lado de Espanha e os comentários dos vários cantos deste planeta ficam mais a descoberto com o desvendar (se bem que, quem está atento e tem memória para mais do que futebol se lembrará) destas pequenas histórias. Aliás, em relação aos comentários, estes só demonstram a estupidez e xenofobia perante o país que abriu as portas do mundo para que, os que hoje acusam Portugal de colonialismo, fundassem os seus próprios impérios, sabe Deus como. 

A Telefónica, enquanto agiu com falta de visão e, possivelmente má fé, na altura em que foi convidada a entrar no capital da Vivo. Hoje voltou a agir de má fé quando tentou fazer o negócio da galinha dos ovos de ouro por trás da direcção da PT e do Estado Português. Não se trata de um nacionalismo ridículo da minha parte, antes trata-se de expor o ridículo nacionalismo e xenofobia vindas ali do leste da Península Ibéria. Os Espanhóis sempre conviveram mal com um Portugal próspero ou que lhes pudesse fazer concorrência. Nos dia de hoje é com a economia que convivem mal. Uma PT bem sucedida e em crescimento incomoda fortemente as hostes, estas sim colonialistas e neo-imperiais, de Espanha. Ao fim ao cabo, se deixaram a PT crescer num mercado como o do Brasil, não tardará a que esta seja uma ameaça aos interesses da Telefónica do lado de cá do atlântico. 

Infelizmente, como disse anteriormente, os investidores e accionistas Portugueses mostram a falta de visão que têm, vendendo-se por meia dúzia de tostões esquecendo os milhões que poderão ganhar no futuro. Enfim, embora esteja a criticar a atitude Espanhola, de facto, devia era criticar primeiro as decisões do lado de cá, pois aí encontra-se a verdadeira causa da situação lamentável deste matagal à beira mar plantado, a que deram o nome de Portugal.

PT, Vivo, interesse nacional e estrangeiro

Antes de começar a escrever sobre o assunto em causa, peço antecipadamente desculpa pela tamanho exageradíssimo do post. Peço também a paciência dos leitores para esse facto.

Entre ontem e hoje tenho ouvido as coisas mais fantásticas vinda cá de dentro e de lá de fora face à atitude do governo na questão da Telefónica vs Portugal Telecom na questão da Brasileira Vivo.

Repare-se nos seguintes títulos do Público.


E para variar, a notícia menos melodramática da BBC News mas que revela bem o que realmente se passou aqui. Podem consultá-la clicando aqui.

Agora o que tenho eu a dizer sobre isto. De uma forma curta o governo tomou a decisão correcta se bem que poderia ter negociado pelos bastidores uma solução que evitasse usar a golden-share mas, mesmo assim, a decisão foi a correcta e só o PSD, de quem os amigos ficaram chateados pela acção do governo, veio agora fazer choradinho para TV por não lhes terem dado o rebuçado.

A Vivo é de extrema importância para a PT pois, como diz a noticia da BBC, encontra-se no único sítio para onde as empresas de telecomunicações podem crescer nos tempos próximos. Para além disso, a Telefónica viu as suas tentativas de expansão para a América do Sul goradas pela France Telecom há uns tempos atrás e os investimentos que lá tem agora, segundo percebi, não estão a dar os frutos esperados. Pelo contrário a Vivo representa uma nova oportunidade de expansão servindo ao mesmo tempo para compensar outras barracas da companhia de nuestros hermanos. Caso a PT venda a Vivo ficará confinada ao mercado nacional, ou seja, deixará de ser concorrente seja para quem for, especialmente para a gigante Telefónica. Ao contrário, se a PT mantiver a Vivo será uma importante e talvez perigosa adversária para companhia espanhola.

Mas, análise económica à parte, olhemos para a parte política da coisa que é onde afinal as birras estão concentradas. O FT, britânico, fala em colonialismo. Mas colonialismo de quem? Será que os britânicos não têm espelhos? Quem é que mantém um monarca que é chefe de estado de meia dúzia de países só para a figura? Quem é que mantém uma coisa chamada Commonwealth que nada mais é que uma extensão de um antigo império? Quem é que, na década de 80, declarou guerra a outro país por causa de dois calhaus no outro lado do mundo sem qualquer relevância para além da histórica e nacional? Quem é que mantém um outro calhau chamado Gibraltar sob o seu controlo? Quem é que impede que o problema da Irlanda do Norte se resolva de uma vez por todas? A não ser que a história me engane, não foi Portugal.

O governo espanhol também se mostrou muito chocado com esta golden-share. Mas afinal não são eles que são contra o intervencionismo do estado na economia? Para que precisam então de vir ao socorro da Telefónica? Pois... Pergunta estúpida de facto quando a resposta é tão óbvia. O problema do governo espanhol e de Espanha em geral, não é a golden-share. O problema é que não os deixaram fazer o que bem quiseram naquilo que eles vêm como uma província renegada do seu país. O FT falava em colonialismo. Se calhar falava bem até, errando apenas o alvo. Espanha faz a vida negra aos investimentos Portugueses nas suas terras. O mesmo não se passa ao contrário. Os investimentos espanhóis foram recebidos de braços abertos durante décadas e só nos últimos tempos, face ao claro desequilibro é que se tem visto um pouco mais de mal estar perante os mesmos.

Relembro algo que li à pouco num comentário no Público. Ainda se lembram os nossos vizinhos Espanhóis quando a EDP foi proibida de ter uma posição maioritária na Iberdrola? Lá está, o vector é o mesmo mas só pode ter uma direcção que é do grande para o pequeno.

A triste parte disto tudo é que, na Europa, os países todos fazem isto. É certo que as empresas portuguesas estão pouco habituadas a competir a nível internacional por incompetência de quem nelas manda. Mas também é facto que, no mercado Europeu só as grandes empresas dos grandes países têm força para fazerem essa competição pois as outras esbarram nos entraves legislativos e políticos, se calhar, até mesmo sociais, das diversas nações que se dedicam a impedir o livre investimento especialmente dos pequenos para os grandes.

No meio disto tudo, aparece a Santa Comissão a dar os seus dois cêntimos. Falando apenas quando estão em causa os interesses de França e Alemanha. Repare-se que, se fosse a PT a comprar uma grande empresa Alemã e o governo Alemão usasse uma coisa do género da golden-share, já não seria a ela que estaria em causa mas sim apenas uma questão de livre concorrência a qual, depois de procedimento judicial iria redundar em nada.

Esta comissão também é sempre bastante rápida a condenar Portugal mas bastante lenta a defendê-lo. Após termos vendido as nossas pescas aos Espanhóis, a nossa agricultura a Franceses e de nos prostituirmos economicamente a Alemães, não falando também nas belissimas praias que alugamos a Ingleses, seria de esperar que pensassem um pouco mais no bem estar de quem cá vive e no futuro deste matagal à beira mar plantado. Em vez disso, a comissão e os grandes da Europa, dedicam-se, cada vez mais, a usurpar o trabalho e investimentos dos outros não lhes dando hipóteses de fazerem concorrência. Ainda têm a distinta lata de levarem empresas como a Microsoft a tribunal por ela fazer aquilo que eles fazem aos outros.

No final, resta perguntar à comissão e aos Europeus destes países porque podem eles fazer o que querem e lhes apetece para defenderem os seus interesses, legalmente ou não e Portugal é sempre privado de o fazer?

Contudo, nada disto teria chegado a este ponto, e agora chego ao ponto crucial deste circo todo, se os empresários portugueses fossem dignos desse nome e não apenas uns patéticos capitalistas, cujo único objectivo é a acumulação de unidades monetárias a qualquer custo. Repare-se que, os grandes accionistas, em vez de verem as coisas a longo prazo, no qual a Vivo seria uma mais valia para a PT, decidiram ficar deslumbrados pelo pornográfica quantia de dinheiro oferecida pela Telefónica. Vieram dizer que era um grande oportunidade para a PT. Pois, erraram. Era uma grande oportunidade para os seus próprios bolsos isso sim. Para a PT seria a perda de um grande activo de expansão e crescimento futuro. Infelizmente, em Portugal, a ganância é associada à falta de visão dos grandes decisores os quais acabam, no fim de tudo, por não serem mais gestores de mercearia a quem o dinheiro hoje importa mais que o investimento amanhã.

Estes são os verdadeiros culpados da situação na PT. Quem lá manda, usa uma empresa que não construiu para enriquecer esquecendo-se do desenvolvimento da mesma. Lembram-se quando Belmiro de Azevedo quis comprar a PT? Lembram-se das pornográficas quantias que se ofereceram aos accionistas para evitar tal coisa? Era o futuro da empresa que estava em causa, diziam eles. E porque não dizem isso agora? Quando é óbvio que a Vivo é uma mais valia para a PT que lhe possibilita ter uma pé num grande mercado em crescimento como é o Brasil, estes senhores preocupam-se é por uns quantos milhões de euros ao bolso.

Depois do vaticínio ontem que isto seria mau para a imagem do país e tal e coisa, a bolsa de Madrid cai e a de Lisboa sobre no sector das telecomunicações. Das duas uma, ou os investidores são estúpidos ou se calhar perceberam que este sector em Portugal está firme, saudável e tem pernas para crescer. No dia que a PT venda a Vivo, os que lá tiverem acções farão uma pipa de massa mas a empresa acabará e começará um longo caminho para a obscuridade económica.