Preconceito disfarçado de opinião.

Sobre a adopção gay por José Miguel Tavares

Já há muito tempo que deixei de ler este fulano pois sentia-me sempre um pouco mais estúpido no final. Isto porque os argumentos que usa para justificar as suas posições provocam uma hecatombe na minha cabeça (onde os meus neurónios assumem o papel das reses sacrificadas).

No entanto, numa onda masoquista, decidi arriscar e ler outra vez. Não saí desiludido, apenas com menos umas quantas centenas de neurónios.

O argumento de que é preciso mais debate para este assunto (e do aborto também - dois referendos não são, aparentemente, suficientes para um amplo debate) é verdadeiramente fascinante. Já se anda a debater esta questão há mais de 10 anos. Não sei quanto tempo mais de debate é que esta gente acha adequado e apenas posso interpretar este argumento como hipócrisia e demagogia feita para esconder ou disfarçar a verdadeira razão: preconceito e homofobia.

Em cima disto, há também os casos reais onde crianças já são criadas por casais do mesmo sexo e não há indicações que os petizes estejam a sair ou já tenham saido mentalmente desiquilibrados. Mesmo que assim fosse, então estes casais estariam apenas a seguir o exemplo dos casais de sexo diferente, os quais são peritos em perturbar as crianças - se assim não fosse, não haveria necessidade de recorrer tanto a psicólogos e psiquiatras com os petizes.

Temos ainda os inúmeros pareceres científicos onde é claramente dito que não há diferenças de comportamento (salvo, porventura, a menor quantidade de preconceito na cabeças dos putos) entre crianças criadas por casais heterossexuais ou homossexuais.

O melhor de tudo é quando dizem que é necessário salvaguardar o interesse da criança. Certamente. Nesse caso, sugiro que se proiba a adopção. É que, olhando bem para a coisa, quando um casal heterossexual vai adoptar não vai a dizer: eu nem quero ter crianças, mas vou fazer esse enorme sacrificio para que uma delas possa ter uma vida melhor. Por favor, poupem-me. O raciocínio da adopção é um raciocínio egoista. Os candidatos a adoptantes querem adoptar por ELES querem ter uma criança. Isto é válido para casais heterossexuais, casais homossexuais e pessoas singulares.

Toda esta argumentação é da mais profunda hipócrisia e só mesmo o preconceito e ignorância juntos permitem que alguém diga semelhantes coisas. Acho interessante quando se argumenta a necessidade da criança ter uma figura masculina e feminina para um bom crescimento. Ora bem, então se isso é impedimento, então a lei da adopção tem que ser imediatamente revista. Tem que se retirar da lei a possibilidade de pessoas singulares poderem adoptar. Não se pode permitir também que só haja um pai ou uma mãe. No caso de pessoas solteiras com filhos, há que lhes obrigar a terem acompanhamento psicológico para a criança ou, simplesmente, retirar-lhes a prole.

Este argumento da necessidade de figuras de ambos os sexos é tão fraco que só mesmo a tentativa de disfarçar preconceitos justifica o seu uso.