Divagações pós Páscoa

"É pá, eu não cago para o que tu dizes." 

Falo de quando dizemos isto num contexto de uma relação próxima, seja de amizade ou algo mais. É aquela coisa que, o que queremos dizer é mesmo "eu não levo a mal as tuas opiniões ou conselhos ou lá o que for que tu dizes". É aquela palmadinha nas costas que pretende ser um reforço da relação mas, no fundo, é o fim da macacada. 

Esta mítica e fantástica frase é daquelas coisas simpáticas que se diz aos outros quando achamos que somos donos da razão. 

O problema está quando, do outro lado, nos apercebemos que, a verdadeira razão porque se ouve a frase acima mencionada é porque, na realidade, cagamos para o que a outra pessoa está a pensar. É um passo à frente da do dizer que se "caga" para o que os outros dizem. É um estado mais elevado de espírito. Enquanto uns cagam para o que dizemos, nós cagamos para o que os outros pensam. 

É por estas razão que às vezes eu falo com as pessoas, porque cago para o que elas pensam. Se realmente me preocupasse teria o cuidado de, pelo menos, estar calado para não ofender ninguém. A realidade, e apercebi-me disto recentemente, é que realmente, salvo com uma muito pequena parte dos meus relacionamentos, eu cago para o que as pessoas possam ou não pensar. 

Não o faço por desrespeito. Apenas não sou dono, nem pretendo ser censor do que os outros possam ou não pensar. Caso o que eu lhes digo (e raramente digo algo com o intuíto de ofender, embora por vezes haja, inadvertidamente, esse efeito) seja tomado como ofensa, esse problema é de quem pensou assim e não meu. 

A questão aqui é que quando, numa relação de amizade ou algo mais, chegamos ao ponto em que nos apercebemos que nos estamos a cagar para o que a outra pessoa pensa, depois de ouvir a brilhante frase do "cago para o que dizes", está mais do que na hora de por uns patins à pessoa e irmos à nossa vidinha. 

Não temos de ofender ninguém mas também não temos de ser responsáveis pelo que os outros possam ou não pensar quando as coisas são ditas de boa fé e, por vezes, até com as melhores das intenções. Somos livres de pensar o que quisermos e achar o que quisermos também. Somos livres de ser compreensivos e honestos ou de ser estúpidos e falsos. Tudo na vida é uma questão de escolha e quando as escolhas dos outros não nos servem, andamento! 

Para a frente que atrás vem gente e com 7 mil milhões de pessoas no planeta, não é do nosso interesse perder tempo com uma.