Antes de dizer seja o que for, não, para mal de muita gente ainda não abandonei o blogue... Espero ainda ter oportunidade para causar reacções a estilo "avestruz" (esperando, no entanto, que elas venham mais fundamentadas e não tão "resumidas" como aconteceu no passado...). Tendo isto dito passemos a coisas "menos" sérias.
Boa tarde (para mim pelo menos)!
Hoje decidi vir falar deste célebre (ou não, visto que não se fala nele. Quem estiver a ver até pensa que as criaturas "atormentadas" que tiveram esta (in)feliz ideia querem esconder qualquer coisa até à aprovação no parlamento...) assunto que tantas dores de cabeça irá provocar em todos os quadrantes da sociedade portuguesa.
Começo por dizer que acho semelhante ideia não só totalmente descabida como também perfeitamente ridícula. Já desde os anos noventa que se falava de tal projecto. A razão avançada: uniformizar a língua portuguesa. O que eu me pergunto é: para quê? Em que é que o comum dos cidadão vai beneficiar com isto? Talvez do lado do Brasil haja cidadãos para quem isto será uma bênção visto que falar correctamente, seja que língua for, é de facto um desafio comparável à dobragem do cabo das tormentas, com a diferença que no caso destes cidadãos o barco nunca chegará a bom porto... E do lado de cá há certamente outros tantos que nem falar sabem e o que sabem é das telenovelas brasileiras ou dos programas altamente culturais que passam em determinados canais logo pela manhã...
Não quero com isto dizer que os brasileiros no geral não sabem falar e escrever como se fosse algo inerente à nacionalidade. Saber sabem mas, e permitam-me a arrogância, a maior parte não é português que fala... De facto eles falam uma outra língua com origens e em tudo semelhante ao português; chamemos-lhe brasileiro. Mas mesmo tendo isto em conta, ainda existe uma grande parte da população daquele país que nem essa pseudo-língua sabe falar, falando um qualquer conjunto de palavras avulsas e/ou "aportuguesadas" do inglês.
Exemplo: condensador em português passa a capacitador em "brasileirês" (qualquer semelhança com capacitor em inglês é pura coincidência).
Com estes faCtos expostos, avanço para outra perspectiva. Mesmo que isto não provoque impaCto no leitor então eu acrescento isto. Para um acordo que quer uniformizar a língua algo então escapou a quem o fez certamente. De faCto os "c" e outras letras mudas vão desaparecer da escrita com o acordo e até aqui uniformiza-se a língua. O problema começa quando o mesmo acordo prevê que se possa escrever a mesma palavra de acordo com a pronúncia de cada um. Ou seja a título de exemplo (o mesmo usado pela rtp1 segundo me lembro) temos a palavra tectónica. Para esta palavra em vez de haver uma única forma de escrever passará a haver múltiplas formas (tetónica, tectónica, tetônica...). Ora bem eu pergunto então: raios e coriscos... onde foi parar a uniformidade da língua? Vamos todos procurar debaixo da cadeira e da mesa do computador para ver se está lá!
Com tudo isto ainda acrescento: já pensaram na concorrência que as editoras portuguesas vão ter que enfrentar nestes primeiros tempos? Sim porque o que se fala no Brasil é evidentemente mais próximo do acordo do que o que se fala na europa... E ainda digo mais: de onde saiu esta brilhante ideia da necessidade de uniformizar a língua quando outras línguas como o inglês e o francês convivem harmoniosamente desde há séculos sem nunca ninguém se ter lembrado de tal coisa? Já viram algum inglês, americano, australiano, sul-africano a ter problemas em perceber o que o outro diz por causa de falarem e escreverem de maneiras diferentes? Isto só acontece com o português devido a completa ignorância que reside em território brasileiro (e no caso português também não fica nada atrás). Eles não percebem o que os portugueses dizem simplesmente porque são intelectualmente embrutecidos, não por algum defeito genético (ou então se calhar... mas lá chegarei) mas antes por um analfabetismo crónico. Da quantidade de alunos brasileiros que frequentam o ensino superior (e eu conheço alguns) há de facto um pequeno período de adaptação, como é normal em qualquer caso de diferença de sotaque, mas não faz de todo com que eles não percebam aquilo que se diz. Logo concluo que não é algo inerente à língua mas sim a quem a fala. Se estes alunos percebem então todos os brasileiros com mais ou menos facilidade inicial conseguem perceber. Só não percebem se não quiserem. Aliás, isto passa-se de igual modo com nuestros hermanos: eles só não percebem o Português quando não lhes interessa. O curioso é que o inverso já não é inteiramente verdade. Os portugueses que não conseguem perceber brasileiros e espanhóis padecem do mesmo problema referido antes: um analfabetismo crónico que lhes provoca um embrutecimento intelectual digno de registo; ou então pura falta de vontade.
Então digo isto como remate: a quem de facto serve o acordo ortográfico e para quem é que ele é feito? Se do lado do Brasil não há vontade em falar melhor a língua, que também é, deles e continuam a insistir em falar como bem querem porque haveremos nós de mudar a nossa maneira de falar e escrever? Este acordo não serve ninguém para além dos interesses editoriais Brasileiros. Pena que o povo português seja também "futebolicodependente" para ver que há outros "ataques" à nação para além daqueles que se passam dentro de um estádio de futebol. Gostaria de ver uma mobilização igual à do euro2004 quando assuntos desta natureza estão em causa. E já agora, faz todo o sentido que este acordo seja feito por um governo que tem um PM à sua frente que em termos académicos também precisou de artimanhas para conseguir ter o diploma e ser (ou não... se calhar vai sendo...) engenheiro. Não notam aqui um padrão?