Porque tenho andando com uma onda de particular inspiração, venho hoje aqui deixar uma onda de mau feitio que venho a remoer desde há uma semana. Mandaram-me hoje dois e-mails por causa duma qualquer petição que por aí anda sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Eu até que já me debati (e até continuo a debater por uma questão de princípios) pelo direito ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo mas hoje pergunto-me: porquê? Porquê ter o direito a uma coisa que 60%, arrisco eu dizer, dos "interessados" não têm qualquer intenção de respeitar os deveres inerentes?
Começo por fazer uma análise do casamento em geral tal como ele existe agora. Hoje em dia, os heterossexuais que decidem casar vão para o casamento como se aquilo se tratasse duma formalidade qualquer para com as finanças por exemplo. Muitas das vezes casam-se só para se divorciarem anos ou até mesmo meses depois. Os que não o fazem, em também grande parte das vezes, andam por aí a dar armações cranianas uns aos outros e depois dão lições de moral sobre o que é o casamento. Resumindo o respeito pelo matrimónio é, claramente na minha opinião, algo do passado (se bem que no passado os casamentos eram mantidos ou por imposição de um dos conjugues ou por falta de legalidade do acto de divórcio).
Para já pergunto: neste panorama, quem são esses senhores moralistas que tanto defendem o casamento só para um segmento da população, argumentando com factos que são tudo menos realidade? A "santidade" do casamento só existe na cabecinha de alguns crentes.
Já agora, um ligeiro desvio para perguntar aos senhores padres, cardeais e sei lá o que mais, que argumentam que o casamento tem como objectivo a procriação: os senhores acreditam mesmo nisso ou quando vão para a cama repetem isso n de vezes para acreditarem? É que se lerem bem a história do casamento, ele é bem anterior a qualquer religião monoteísta actualmente existente e tem tantas variações ao longo da história que querer reduzi-lo a uma relação para procriação é no mínimo, bem, redutor.
E, aproveitando esta linha de raciocínio, então, admitindo agora que a função principal do casamento é a reprodução, suponho que os senhores vão rever as vossas leis para impedir o casamento a heterossexuais inférteis ou que vão para o casamento já com a ideia de que NÃO vão querer ter filhos, certo? É que caso contrário parece-me tentar vender é a história do vigário...
Voltando atrás...
Numa sociedade onde, poucas são as pessoas que sabem estabelecer amizades sequer, o direito a casar é algo no mínimo ridículo. Nos dias de hoje, o importante é que eu me divirta, "goze" a vida, tenha dinheiro para gastar em coisas o mais superficiais possíveis para quê ainda andarmos a preocuparmos-nos com algo tão nobre e representante da relação humana mais próxima que existe como é o casamento (símbolo de amor e companheirismo entre dois seres humanos)?
Passando agora mais directamente à questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo... Oh meus amigos, mas com a vida que a maior parte de vós leva vocês esperam sequer ter relações de namoro que durem mais que 15 dias (não que isto também não aconteça nos heterossexuais, mas parece-me ser menos usual neste ponto muito particular, sendo mais vulgar a parte de casarem e depois comerem por fora mas lá chegarei)? Quê, estão a gozar comigo? Querem direito ao casamento para quê? Para terem a liberdade de não o exercerem ou fazerem como uma grande parte dos heterossexuais faz, que é terem a oportunidade de se poderem divorciar três meses depois?
Os direitos exigem-se quando se está consciente dos deveres a eles inerentes. Isto faz-me lembrar a questão da democracia em Portugal. Toda a gente, ou assim me fazem crer, a quis mas agora que a têm não a usam. Votar, bem é melhor estar em casa a ver a novela ou ir para a praia apanhar sol do que perder 10-15m a ir por uma "cruzinha". Ou então, as mulheres que exigem ter os mesmos direitos que os homens mas quando toca aos deveres, as coisas já não são bem assim. Exemplo: quando o serviço militar era obrigatório para os homens, não vi nenhuma mulher a querer que o serviço passasse a ser obrigatório para ambos os sexos. A igualdade aqui já não era tão igual assim.
Por uma questão de igualdade eu sou da opinião de que o casamento (ou chamem-lhe o que quiserem se for apenas um problema de semântica - "chamem-lhe vrenhac" como diziam os outros) deve ser um direito dado a todos, independentemente da raça, crença ou de quem se leva para a cama. Infelizmente, numa sociedade onde o sexo ou é pecado ou é tratado como algo devasso, o casamento perde todo o espírito que hoje em dia se lhe quer dar. Torna-se um instrumento apenas legal. Assim sendo, não consigo perceber qual o problema de certas criaturas com cruz ao peito, com o casamento legal, visto que se trata apenas isso. E sim, a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma questão legal e não se pode discutir mais para além disso. Desenganem-se os homossexuais que pensem que a Igreja alguma vez (a não ser que haja um revolução divina) os irão casar.
Concluindo, primeiro será melhor muitos dos que pedem o casamento olharem a sua volta e verem bem o que se passa. Como em todo o lado, há sempre os bons e os maus, mas no que toca a este ponto, tanto do lado dos heterossexuais como do lado dos homossexuais, os maus excedem claramente os bons. Neste contexto, penso que até faria mais sentido em falar no fim do casamento do que na extensão do mesmo seja a quem for.
Pensem bem naquilo que pedem para depois não caírem do rídiculo que foi, por exemplo, a questão do aborto. Segundo sei, as clínicas ilegais continuam a existir e as mulheres continuam a morrer por abortos clandestinos (falarei disto noutro post). Não façam do casamento a mesma coisa. É que quem defende o casamento entre pessoas do mesmo sexo, independentemente de ser hetero ou homossexual, caso as coisas corram mal vai ter que ouvir o outro lado dando asas a que haja um retrocesso legal o qual não será tão cedo resolvido. Não julguem que as leis depois de aprovadas não podem ser revogadas. Olhem só para a palhaçada que se passa nos EUA sobre este caso para ver o que pode acontecer.
Direitos sem se estar cientes das obrigações não obrigado.