Os recontares da história

Cada vez mais fico com a sensação de que há algo de errado nos cursos de jornalismo em Portugal. Esta notícia do DN de hoje é um espelho disso mesmo. Não sei bem o que andam os Professores desses cursos a ensinar ou que andam os alunos por lá a fazer. 

Não se exige a um jornalista, que não é licenciado em História, Ciência Política ou numa qualquer Ciência Exacta que saiba tudo sobre todos os assuntos. Não, isso seria utópico ou, pelo menos, demagogo. O que se exige é que saiba efectuar uma pesquisa séria e isenta de erros (ortográficos e científicos). Infelizmente, o que se vê por aí é o oposto. 

A notícia que indiquei antes mostra a parte da falta de capacidade de pesquisa dos nossos jornalistas. Isto para não dizer na meia verdade que a notícia tenta transmitir sem contar a verdade toda pois essa seria, no mínimo, incomoda para muitos.

As verdadeiras origens da Irmandade Muçulmana, os eventos, factos e motivos que levaram a que, em 1928, ela surgisse remetem-nos para muito antes. Se se pretender ser exaustivo poderíamos certamente ir até século XVI. No entanto, e para a questão aqui colocada, basta dizer que todos os movimentos que hoje se vêem um pouco por todo o Mundo Islâmico tiveram origem nas políticas dos Países Ocidentais, Cristãos portanto, durante os dois séculos passados (XIX e XX). Desde a obsessão, a qual já vinha detrás, em derrubar o Império Otomano até à política de Mandatos da Sociedade das Nações e o posterior derrube por dos líderes secularistas do Mundo Árabe, o Ocidente tem muito por onde escolher para encontrar as verdadeiras causas do aparecimento de movimentos do tipo "Irmandade Muçulmana". 

Esta patética tentativa de "Nazificar" os movimentos mais Fundamentalistas do Islão tem tanto de ignorância como de falta de bom-senso. Quantos outros cooperaram com os Nazis e andam por aí alegres e contentes? De quantas tecnologias se apoderaram os EUA e URSS dos Nazis sem que nada lhes tenha acontecido? E os Franceses, que mal viram os Alemães a passear pela sua capital se renderam e aceitaram o regime de Vichy? E os Italianos, que começaram a guerra ao lado dos Nazis e que só mudaram de lado porque as coisas começaram a correr mal? E Portugal? Nós que vendemos volfrâmio a ambos os lados, somos o quê?

Os jornalistas, profissionais da informação, parece-me que se estão a desligar da realidade e a perder o tacto da profissão. Se for para lixar a vida a alguém, como fizeram com O Jumento, que investigaram até lhe descobrirem a identidade, ou para descobrir com quem andou a dormir o VIP da vida pública Portuguesa, aí fazem eles investigação "exaustiva". Contudo, quando se trata de fazer investigação exaustiva para informar e falar meramente a verdade, aí valores mais altos se levantam. Preguiça, má formação académica, má formação de caracter, misturar a sua opinião com a realidade dos factos censurando-os ou pura incompetência, isso pouco já importa. O que importaria é que estes profissionais pusessem a mão na consciência e fizessem o seu trabalho sem procurar inflamar a opinião pública contra estes ou aqueles só para vender mais umas cópias do jornal de hoje. Aliás, se não for por mais nada, deviam aspirar a ser bons profissionais por uma questão de brio pessoal.

Hoje em dia, tal coisa parece-me ser pedir demais.

2 comments:

Em@ said...

clap!clap!clap!

infelizmente tens toda a razão. são poucos os jornalistas que merecem esse nome.
beijo,Elenáro.

Elenáro said...

Poucos ou nenhuns hoje dia, Em@...