Do país - parte II



No post anterior falei da falta de crise em Portugal. Hoje venho continuar com mais reflexões de Ano Novo.

Começo pela loucura, insanidade mesmo, a que neste país se chegou. A falta de competência, a capacidade para lamber botas, a apatia tão típica da portugalidade nunca estiveram tão altas. Outro dia contavam-me histórias de entrevistas, daquelas que nós guardamos para memória futura. Todas eram bons exemplos de como em Portugal, ninguém sabe o que anda a fazer e nem sequer se apercebem das barbaridades que dizem. 

Numa história, a pessoa que conduzia a entrevista que era, só por acaso a entidade empregadora, não sabia a morada do sítio onde o candidato iria prestar o serviço. Noutra, só final se lembraram de dizer os requisitos obrigatórios e eliminatórios para a função pedida, isto depois dos candidatos já terem feitos testes e mais testes e já estarem na fase final do processo de candidatura. Ainda noutra, mesmo sendo o único candidato à posição pedida, e depois de ter falado com a pessoa responsável pela secção, o técnico de recursos humanos, o qual nem sabia que já tinha havido uma anterior entrevista, decide que a pessoa que o chefe de departamento tinha escolhido, afinal não era o que se pretendia (não esquecer que não havia mais nenhum candidato ao posto). 
Nas notícias, ouvi assim uma notícia, a modos que a fugir, em que se anunciava que os partidos políticos agora poderiam deduzir as multas resultantes de procedimentos incorrectos durante as campanhas ao Estado, sendo, posteriormente, ressarcidos dos respectivos valores. A tranquilidade com que o jornalista disse a notícia e a passividade da mesma foi algo que me chocou. Pior ainda, foi o facto de a notícia seguinte ter a ver com qualquer coisa do Benfica. Então agora, algum ente jurídico, depois de cometer uma infracção e de ter sido alvo de uma sanção pecuniária pode deduzir a multa e depois ainda lhe ser devolvida a mesma? Mas andamos todos loucos ou a dormir? E o jornalista, aliás, os jornalistas dão esta notícia como se fosse a coisa mais banal e normal do mundo? Mas isto não interessa falar, é isso? Não há nada a dizer? É que se não há acho que todos os portugueses devem começar a declarar as multas para fins de descontos de IRS. Se isto é assim tão normal, então devemos todos poder usufruir da legalidade do facto.

Mas não termina aqui. Olhando para as notícias dos jornais e ao que por lá se diz, fica-se com a sensação de que andamos todos burros ou estúpidos. Fala-se sobre tudo e sobre nada. Dizem as maiores loucuras como se nada fosse. Asneiras atrás de asneiras das bocas de jornalistas, comentadores, políticos e afins como se estivessem a dizer algo passível de ser merecedor de um Nobel. Ontem, era a venda do ouro do Banco de Portugal. Mas isso iria resolver alguma coisa? Mas acham que o ouro voltaria a crescer para daqui a dois, três anos podermos vender mais? Mas será que os jornalistas têm um curso superior tirado a um Domingo? O pior disto, é que todos os economistas agora tiveram uma palavra a dizer sobre o assunto. Mas, sendo eles economistas, não será tão dolorosamente óbvio para eles que este assunto do ouro é aquilo a que se chama uma "não-notícia"? Daqui a cinco anos se o preço do ouro baixar vamos falar na tragédia que foi o dilapidar do ouro no pós-25 de Abril? Andamos aqui em círculos é?

Com tamanhos exemplos de falta de formação adequada não admira que saiam notícias destas. Pena que se chegue à conclusão que os alunos não estão sozinhos e que este problema não seja de hoje. Já vem detrás. A surpresa é que ainda se ache isto surpresa. Infelizmente, este processo é reprodutivo. É que os alunos de hoje são os adultos e profissionais de amanhã. E não nos vamos esquecer que os de hoje foram alunos ontem. Isto servirá para quem quiser enfiar a carapuça.
Esta é a verdadeira razão pela qual o país está economicamente débil. Não falo mais em crise, digo débil. E só vamos sair desta debilidade quando os portugueses acordarem e perceberem que os lugares têm de ser ocupados pelos mais aptos e pelos mais capazes e que essa capacidade tem de ser constantemente provada e comprovada. Não chega ter curso superior é preciso ser-se profissionalmente superior.

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