Resposta a um post de Ventanias publicado em nortadas.
Caro ventanias, devo de dizer em primeiro lugar que muito me apraz a sua tomada de posição pro-adopção por casais homossexuais. Parece-me uma decisão sensata e não hipócrita e cínica como acontece com muitos que dizem defender os valores familiares e que apenas defendem os valores de uma moral religiosa (católica neste caso) escondida e disfarçada de moral social. Esquecem-se estes que o mundo não e nunca foi e nunca será certamente um mundo católico nem sequer cristão. Mas isto são discussões fora do contexto.
Contudo, e apesar de aplaudir a sua posição (que devo dizer não é inteiramente a minha) num sentido geral, reparei que há um considerável "homofobismo" escondido no seu texto. Se não "homofobismo" então pelo menos um certo preconceito e umas enormes "palas" (perdoe-me a frontalidade) com que você vê e analisa o mundo (se é que se pode chamar isso) da homossexualidade.
Começo por lhe dizer que, quando afirma "Por conseguinte, desde que um indivíduo homossexual passe esse crivo, não vejo porque não há-de poder adoptar.", está (presumo) a considerar que à partida um homossexual por oposição a um heterossexual, tem comportamentos reprováveis. Gostava de lhe perguntar que crivo comportamental especifico é que você considera que um homossexual tem de ultrapassar que um heterossexual parece à partida já ter por definição? Conhecendo eu pessoas de ambas as orientações sinceramente, acho que encontro mais facilmente comportamentos reprováveis em heterossexuais do que em homossexuais. Não me vai certamente tentar vender a ideia da leviandade "inata" a um homossexual, pois se se trata disso, então devo-lhe desde já dizer que então você vive numa fantasia e não olha para a quantidade de "armações cranianas" que existem na cabeça de muita mulher e homem heterossexual. A leviandade muitas vezes associada à homossexualidade existe de igual modo (senão até em maior quantidade e mais cinicamente escondida/disfarçada) no mundo heterossexual. Por isso, certamente espero eu, que o crivo será outro e gostaria que me esclarece-se pois não vejo qual a diferença inata entre um homossexual (homem ou mulher) e um heterossexual (homem ou mulher) que um tenha de ultrapassar e o outro não.
Digo-lhe também que esta problemática social não é resolvida com "filosofia" e o uso que você lhe deu quando diz que "Filosoficamente, ainda vejo outra razão a favor" é um pouco fora do âmbito da definição de "filosofia". É uma questão de extensão de direitos a uma minoria da sociedade e não uma questão de mera discussão de pensamentos.
Quanto ao facto de um homossexual não poder gerar filhos, bem a sua opinião parece-me agora irreflectida. Se pensar bem, uma mulher homossexual poderá recorrer a inseminação artificial para engravidar não estando logo limitada à adopção. Apenas os homens homossexuais estarão por ventura limitados a essa opção e mesmo assim isto é discutível pois poderá, no limite doar esperma para inseminar artificialmente uma mulher que assim o deseje e está portanto apto a ser pai. Penso que neste caso você apenas terá razão na medida em que um homem homossexual não poderá engravidar o seu companheiro dentro de um "casamento homossexual". Também não sei onde você foi buscar a ideia de haver "tecnologias que permitem ultrapassar essas limitações". Certamente não me está a querer convencer que um homossexual masculino gostaria ou desejaria engravidar? Bem, se calhar até há mas parece-me demagogia pura sequer pensar em por semelhante hipótese. Biologicamente a questão de criar um útero artificial num homem penso que não seria o mais problemático. Mas se pensar bem o corpo do homem não possui os mecanismos hormonais nem sequer o espaço interno para o desenvolvimento de um feto. Parece-me que ai o caro Ventanias entrou pelo mundo a demagogia científica sem ter reflectido muito bem naquilo que disse.
Quando fala que a adopção tem de pensar sempre no interesse da criança aí estou inteiramente de acordo consigo e mais uma vez aplaudo a sua tomada de posição.
Contudo, volta a cair no mesmo erro inicial denotando mais uma vez uma homofobia escondida e agora batendo no limiar da demagogia e hipocrisia, falar em direitos e opções em ser ou não ser homossexual. Como certamente já lhe foi esclarecido antes, as orientações sexuais não são opções mas antes características inatas e únicas de cada ser humano. Depois não percebi onde quis chegar quando fala no "direito a ser homossexual acarreta a responsabilidade de não poder procriar". Mais uma vez lhe aponto o caso de uma mulher homossexual que seja submetida a uma inseminação artificial. É irrelevante fazer distinção neste caso pois uma qualquer mulher pode ser sujeita a este procedimento quer esteja sozinha ou numa qualquer relação, homo ou heterossexual. De facto quem é homossexual sabe que à partida está limitado na sua forma de procriar mas daí a dizer que quem o é NÃO pode procriar parece-me no mínimo um exagero colossal.
Por fim perdi-me no que quis dizer com "ser necessário ir à causa das coisas". Causas de quê? Da homossexualidade? Do direito a adoptar? Da característica das relações homossexuais/heterossexuais? Estará o caro Ventanias a querer dizer que é necessário perceber porque uns são homossexuais e outros heterossexuais retomando o debate de há umas décadas atrás sobre se a sexualidade e os seus variados modos de se exprimir são doenças, desvios comportamentais ou meras características inatas? Sinceramente não percebi onde fica o porquê que as coisas serem assim num debate que apenas quer dizer que "sendo as coisas como são como permitir às pessoas todas poderem gozar e obter felicidade nas suas vidas".
Peço desde já desculpa pelo tamanho do comentário.
Cumprimentos,
Elenáro.
Caro ventanias, devo de dizer em primeiro lugar que muito me apraz a sua tomada de posição pro-adopção por casais homossexuais. Parece-me uma decisão sensata e não hipócrita e cínica como acontece com muitos que dizem defender os valores familiares e que apenas defendem os valores de uma moral religiosa (católica neste caso) escondida e disfarçada de moral social. Esquecem-se estes que o mundo não e nunca foi e nunca será certamente um mundo católico nem sequer cristão. Mas isto são discussões fora do contexto.
Contudo, e apesar de aplaudir a sua posição (que devo dizer não é inteiramente a minha) num sentido geral, reparei que há um considerável "homofobismo" escondido no seu texto. Se não "homofobismo" então pelo menos um certo preconceito e umas enormes "palas" (perdoe-me a frontalidade) com que você vê e analisa o mundo (se é que se pode chamar isso) da homossexualidade.
Começo por lhe dizer que, quando afirma "Por conseguinte, desde que um indivíduo homossexual passe esse crivo, não vejo porque não há-de poder adoptar.", está (presumo) a considerar que à partida um homossexual por oposição a um heterossexual, tem comportamentos reprováveis. Gostava de lhe perguntar que crivo comportamental especifico é que você considera que um homossexual tem de ultrapassar que um heterossexual parece à partida já ter por definição? Conhecendo eu pessoas de ambas as orientações sinceramente, acho que encontro mais facilmente comportamentos reprováveis em heterossexuais do que em homossexuais. Não me vai certamente tentar vender a ideia da leviandade "inata" a um homossexual, pois se se trata disso, então devo-lhe desde já dizer que então você vive numa fantasia e não olha para a quantidade de "armações cranianas" que existem na cabeça de muita mulher e homem heterossexual. A leviandade muitas vezes associada à homossexualidade existe de igual modo (senão até em maior quantidade e mais cinicamente escondida/disfarçada) no mundo heterossexual. Por isso, certamente espero eu, que o crivo será outro e gostaria que me esclarece-se pois não vejo qual a diferença inata entre um homossexual (homem ou mulher) e um heterossexual (homem ou mulher) que um tenha de ultrapassar e o outro não.
Digo-lhe também que esta problemática social não é resolvida com "filosofia" e o uso que você lhe deu quando diz que "Filosoficamente, ainda vejo outra razão a favor" é um pouco fora do âmbito da definição de "filosofia". É uma questão de extensão de direitos a uma minoria da sociedade e não uma questão de mera discussão de pensamentos.
Quanto ao facto de um homossexual não poder gerar filhos, bem a sua opinião parece-me agora irreflectida. Se pensar bem, uma mulher homossexual poderá recorrer a inseminação artificial para engravidar não estando logo limitada à adopção. Apenas os homens homossexuais estarão por ventura limitados a essa opção e mesmo assim isto é discutível pois poderá, no limite doar esperma para inseminar artificialmente uma mulher que assim o deseje e está portanto apto a ser pai. Penso que neste caso você apenas terá razão na medida em que um homem homossexual não poderá engravidar o seu companheiro dentro de um "casamento homossexual". Também não sei onde você foi buscar a ideia de haver "tecnologias que permitem ultrapassar essas limitações". Certamente não me está a querer convencer que um homossexual masculino gostaria ou desejaria engravidar? Bem, se calhar até há mas parece-me demagogia pura sequer pensar em por semelhante hipótese. Biologicamente a questão de criar um útero artificial num homem penso que não seria o mais problemático. Mas se pensar bem o corpo do homem não possui os mecanismos hormonais nem sequer o espaço interno para o desenvolvimento de um feto. Parece-me que ai o caro Ventanias entrou pelo mundo a demagogia científica sem ter reflectido muito bem naquilo que disse.
Quando fala que a adopção tem de pensar sempre no interesse da criança aí estou inteiramente de acordo consigo e mais uma vez aplaudo a sua tomada de posição.
Contudo, volta a cair no mesmo erro inicial denotando mais uma vez uma homofobia escondida e agora batendo no limiar da demagogia e hipocrisia, falar em direitos e opções em ser ou não ser homossexual. Como certamente já lhe foi esclarecido antes, as orientações sexuais não são opções mas antes características inatas e únicas de cada ser humano. Depois não percebi onde quis chegar quando fala no "direito a ser homossexual acarreta a responsabilidade de não poder procriar". Mais uma vez lhe aponto o caso de uma mulher homossexual que seja submetida a uma inseminação artificial. É irrelevante fazer distinção neste caso pois uma qualquer mulher pode ser sujeita a este procedimento quer esteja sozinha ou numa qualquer relação, homo ou heterossexual. De facto quem é homossexual sabe que à partida está limitado na sua forma de procriar mas daí a dizer que quem o é NÃO pode procriar parece-me no mínimo um exagero colossal.
Por fim perdi-me no que quis dizer com "ser necessário ir à causa das coisas". Causas de quê? Da homossexualidade? Do direito a adoptar? Da característica das relações homossexuais/heterossexuais? Estará o caro Ventanias a querer dizer que é necessário perceber porque uns são homossexuais e outros heterossexuais retomando o debate de há umas décadas atrás sobre se a sexualidade e os seus variados modos de se exprimir são doenças, desvios comportamentais ou meras características inatas? Sinceramente não percebi onde fica o porquê que as coisas serem assim num debate que apenas quer dizer que "sendo as coisas como são como permitir às pessoas todas poderem gozar e obter felicidade nas suas vidas".
Peço desde já desculpa pelo tamanho do comentário.
Cumprimentos,
Elenáro.
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