Após um longo intervalo decidi vir aqui perder um bocadinho de tempo para deixar qualquer coisa... Assim a modos como abrir uma janela de uma casa para evitar que ela ganhe cheiro a mofo e impedir acumulações exageradas de pó. Fiquei, no entanto, perdido sem saber bem o que escrever. Até cheguei a pensar que nada tinha para dizer.. E, de facto, não tenho.
Repare-se: o país continua louco. O governo não mudou e nem sequer muda. Os partidos da oposição continuam a fazer campanha eleitoral e a sabotar tudo e todos, incluindo, a eles próprios. A justiça continua igual a ela própria. A título de exemplo, faço cito o que Rita Ferro disse no seu programa de rádio do qual agora não me lembro do nome e, por imposição de uma doença chamada perguicitis agutis, me recuso a ir procurar. Disse ela, então, que um tribunal português condenou a não sei quanto tempo de prisão um rapazito por ter feito download de uma música e por a ter partilhado. Disse ela também, e muito bem, que houve muita rapidez para condenar um pobre desgraçado mas não há nem rapidez nem vontade de resolver casos como o da Casa Pia. A educação, agora em compasso de espera para as aulas recomeçarem, continua igual. E vou poupar o leitor com mais coisas deste patético país. Creio bem que todos saibamos no estado que estamos e tudo o mais, independentemente de só protestarmos ou de até irmos fazendo alguma coisa para que as coisas se resolvam ou ainda que as façamos só por e para interesse próprio.
Enquanto isto, alterei o título do posto de Desvarios para Desvarios e desilusões. Se calhar desilusões está errado e tristeza seria um melhor termo. Recentemente comecei a trabalhar com alunos mais novitos, algo que não tinha pensado e que até tentei evitar mas, quando surgiu a oportunidade lá acabei por aceitar. Tem sido uma experiência no mínimo interessante, se bem que continuo a preferir trabalhar com adultos. No entanto, esta experiência permitiu que eu tomasse contacto com uma realidade que muito me assustou e até surpreendeu.
Já sabia e esperava que estas novas gerações fossem mais desleixadas e, peço que me desculpem pela brutalidade do que vou dizer agora, mais estúpidas. Não porque sejam na realidade menos inteligentes daqueles que antes deles vieram. Não, muito pelo contrário. Potencialidade é coisa que não lhes falta mas, por razões que ainda não percebi muito bem, não têm motivação para nada e objectivos de vida é um conceito que eles nem sequer têm. Nos mais jovens alunos que tenho ainda consigo perceber. Devido à idade, a única coisa que lhes passa pela cabeça é brincadeira. Maldita será esta vil sociedade que insiste, de uma maneira ou de outra, e por mero self-interest dos adultos roubar-lhes a meninice própria e hoje possível de ser gozada em pleno. No entanto, nos mais velhos, naqueles que já têm de pensar no seu futuro, quanto mais não seja no escolar, nesses vejo falta de... bem, tudo. Uns não sabem o que querem e os que sabem aspiram a ser medíocres. Não há mais sonhos de grandeza típicos da juventude naquelas cabecinhas. Resignam-se à realidade a serem apenas meros e médios seres humanos.
Ultimamente, com isto me tenho preocupado. Com os adultos sempre tentei quebrar isto. Um elogio, uma palavra de incentivo ou até mesmo um desafio a serem melhores, quanto mais não seja nas minhas aulas, faz milagres. Certo que o esforço para mim é bem maior do que apenas palrar mas, no entanto, a satisfação de, no final as coisas correrem bem e eles virem o quanto foram capazes, é igualmente maior. Infelizmente, quando as coisas correm mal e o incentivo não foi suficiente ou o desafio capaz de os puxar, a desilusão que se instala é devastadora.
Mas agora e com estes jovens? Desafiá-los? Incentivá-los? Bem, resulta, mas por mais que trabalhem e se esforcem falta-lhes a chama. O fogo que arde na juventude e nos queima para a velhice neles não vive. E porquê? Depois de muito revirar a mente e de pensar bem e de tentativa e erro nas aulas, creio que percebi o que lhes falta: afecto, auto-estima e, sobretudo, individualidade.
A sociedade em que vivemos e que os pais e avós deles criaram, rouba-lhes isso tudo. A começar pela família que não sabe educar os filhos. Não lhes dá os afectos que eles naturalmente precisam. Compensam com o acessório que são os bens materiais, roupa, sapatos, telemóveis... Falta-lhes auto-estima porque na escola, muitas vezes, os professores (e seja com justa-causa ou não) palram as aulas em vez de fazerem dela um espaço de self-improvement. Finalmente, falta-lhes a individualidade porque não há hoje na sociedade espaço para as diferenças, espaço para o pensamento livre, sobretudo aquele que é contrário à opinião dominante. A roupa é e tem de ser igual à dos "Morangos com Açucar" ou correm o risco de ser insultados e expulsos do grupo. A comida é aquela feita em massa nos centros comerciais, aquela que nada mais é do que enfarda porcos para a matança. Em todo o lado, casa e escola, os jovens são quebrados para serem mais facilmente dominados e depois assimilados por esta cultura neo-liberal e conservadora que apenas serve para alguns manterem o seu estatuto e posição social.
Que nos estávamos a matar a nós [adultos], isso já não era novidade, mas nunca antes se submeteu a juventude a tanto controlo social, a tanta regra e punição. Nunca antes se tentou tanto normalizar os mais novos. No dia que se acabar com a rebeldia típica dos mais novos, o mundo ficará negro. Negro pois nada jamais mudará. Quem muda o mundo são os mais novos pois são eles que, por ainda não estarem "normalizados", impõem novos padrões e maneiras de agir na sociedade. Assim foi até hoje. No futuro, pelo que vejo, não será assim. Fico triste.
P.S.: Para quem não tinha nada para dizer escrevi um testamento.
P.P.S.: Sei que o texto está ensopado de anglicismos mas não me apeteceu rebuscar a mente à procura dos termos em Português.
P.P.P.S.: Também não reli o que escrevi e acho que não o vou fazer. Erros, incoerências de discursos que eventualmente possa haver... Sugere-se que assobiem para o lado ou escolham esse momento do texto para beberem um copo de água fresca e que depois recomecem no paragrafo seguinte. XD