Questões de raça



A propósito de uma notícia no JN sobre o PNR onde este pedem mais segurança para uma praia do Estoril culpando certas e determinadas etnias, ou raças como a extrema-direita gosta de chamar, pela insegurança que lá se vive. Mas nem foi a notícia em si que me leva a escrever o post de hoje mas sim os comentários. De facto, até pode haver, do ponto de vista estatístico uma relação entra falta de segurança e algum característica física das pessoas. Isto até posso dar de barato. Contra factos não há argumentos. O que ainda não se conseguiu provar é que esta relação existe realmente.

Em todo o caso, os comentários que alguns cavalheiros por lá deixaram foi aquilo que me atirou para a escrita deste post. Lá falava-se, por ignorância certamente, na expulsão de africanos, brasileiros e, creio eu, que era extensível a todos os emigrantes cá em Portugal. Suponho também que se fosse fazer uma excepção aos de lusitanos de "raça pura". É neste ponto que eu quero focar o post.

Esta coisa da raça pura é algo verdadeiramente hilariante que só ignorantes e mentirosos podem querer perpetuar. Comecemos logo pelo facto de que este conceito de raça é proveniente de além fronteiras e tem como base de raça pura não a "corja" (aos olhos destas teorias) que cá vive em Portugal mas sim a suposta e mítica raça ariana, loira de olhos azuis. Antes de mais o erro começa em querer fazer as pessoas acreditar que esta raça ariana é originária da Europa. Ela tem antes origem na Ásia e os arianos são um povo emigrado logo por eles próprios. O segundo erro vem quando se quer falar na pureza seja de que raça for pois, ao fim de milénios de miscigenação, não há "raça" alguma pura na humanidade. Pode-se chegar mesmo ao ponto de um "branco" ter mais afinidade genética com um africano da Somália do que com um caucasiano.

Interessante também é depois extrapolar esta questão da raça pura para um português o qual é o resultado de uma mistura de raças tal que não há ponta de pureza em todo o território. Desde que Homo sapiens sapiens chegou à península e, segundo os estudos mais recentes, se misturou com o Homo sapiens neanderthalensis que não há pureza racial. Se calhar a pureza a que estes aspiram seria a do Homo sapiens neanderthalensis que seria o habitante mais original aqui da territa. Mas depois disto ainda vieram sucessivas vagas de imigrações de fenícios, gregos, romanos, suevos, visigodos e por aí fora até às imigrações mais recentes. Por este facto o português é uma bonita combinação de povos e genes. Uma combinação que deu origem à diversidade que hoje se vê em território nacional.

Por isso seria interessante este senhores que advogam estas coisas de expulsão de imigrantes e a pureza nacional pensarem melhor que pureza é esta. É que pureza é coisa que nenhum deles tem e se querem ir para a superioridade de raça, então, de acordo com as teorias eugénicas que deram origem aos movimentos racistas por esse mundo fora, a raça superior é ariana, a tal loira de olhos azuis. Por isto gostava também que se fizesse um recenseamento aos apoiantes destas teorias em Portugal para se ver quantos deles é que correspondem à descrição. Dos que vejo na televisão poucos iriam ser membros dessa elite genética.

No meio disto tudo ainda me fico a rir, pois esses que advogam estas teorias que nem eles próprios conhecem, seriam os primeiros se calhar a serem excluídos. Mais ainda me rio quando penso na ironia de que eles que odeiam africanos e outros que tais também pertencem a essas tais "raças inferiores" e eu, que defendo igualdade de direito para todos e que cuspo nesta teorias eugénicas, sou descendente da tal raça ariana, loira de olhos azuis. Aliás, algo ainda muito patente na família.

Interessante seria também imaginar o que aconteceria se, por esse mundo fora, houvesse uma implementação desta mesma ideologia. Já imaginaram uma diáspora em sentido inverso dos portugueses e seus descentes? O país duplicaria a sua população. Creio que depois, com todos os problemas que isso iria trazer, as questões de associar a criminalidade a comunidades de estrangeiros residentes em Portugal, seria a menor das nossas preocupações pois a criminalidade causada pelos regressados que não teriam tecto, trabalho e comida destruiria a sociedade.

Só mesmo uma ignorância e embrutecimento intelectual das pessoas pode levar a alguém defender semelhantes teses.

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