Quanto se "abusa" da ignorância...

Nos últimos tempos tenho andado a morder a língua para evitar falar deste assunto que já mete nojo. Falo pois da pedofilia na Igreja Católica. Para evitar ter que andar repetidamente a falar sobre isto, vou fazer um post longo onde falarei de tudo o que me resta dizer. Peço, por isso, paciência ao leitor.

Muitos (em Portugal) falam da questão da Igreja estar a ser agora "atacada" ser coincidente com a aprovação de certas leis... Bem, em relação a isto a única coisa que tenho a dizer é que, quem diz isto, padece de um egocentrismo de proporções bíblicas. Repare-se que, estes casos dos abusos sexuais aconteceram fora do país. Repare-se que, quem os denunciou não é português nem tão pouco cá vive. Então, acham mesmo que isto é por causa do que se passa em Portugal? Mas quê, passamos do geocentrismo para o heliocentrismo e agora estamos a entrar no lusocentrismo? Mas será que as pessoas não medem o que dizem? Pensam mesmo que o mundo gira à nossa volta? Enfim...

Mas isto tudo acaba por ser insignificante com o que ontem veio da boca do Cardeal Tarcisio Bertone. Leia-se: 

"Demonstraram muitos sociólogos, muitos psiquiatras, que não há uma relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram, e disseram-mo recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia"

- in DN Online

Mas disse-lhe quem? Onde? E que dados são esses? Perguntas lógicas à parte e fazendo o jogo deste cavalheiro seguindo-lhe as palavras, então deverei deduzir que a Igreja Católica está a querer dizer aquilo virou um antro de homossexuais frustrados com a vida... Se calhar, isto até um passo evolutivo na mentalidade dos membros da Igreja Católica. Começo a pensar que vou ter que me preparar para o dia em que um Papa faça o seu "coming out".

Agora, falando mais a sério, e tal pensarmos na hipótese mais viável que é aquela que nos diz que, tendo perdido a moralidade para pregar seja o que for a quem for, a Igreja Católica não está agora a tentar arranjar um novo demónio? Não seria inédito. A Igreja já o fez antes com as mulheres fazendo-as a fonte de todos os males. Repare-se que ela ainda não recuperou bem do facto de, hoje em dia, as mulheres serem seres humanos de plenos direitos e em nada inferiores aos homens. Repare-se que ainda hoje, mulher não pode dizer missa.

Tal como todos aqueles que se habituaram a julgar e perseguir outros na sua ânsia de poder, quando são eles julgados sentem-se estranhos. Torna-se-lhes difícil o olhar para cima ao invés do olhar de cima. Tanto repetiram as suas mentiras que agora se julgam, eles mesmos, divinos. Como tal, é heresia apontar-lhes defeitos e, sobretudo, obrigá-los a admitir que erraram e que, como Homens que são, padecem de todas as suas virtudes e FALHAS.

Interessante é também notar que, por se exigir responsabilidades à Igreja, esta se auto-transforme em vítima inocente afirmando que está a ser demonizada. Haverá certamente um ateísmo militante que se delicia com estes factos pois serve como arma de arremesso. No entanto, antes de se vitimizar, a Igreja devia pensar nas asneiras que deixou que se fizesse. Ninguém quer fazer da Igreja um amontoado de pedófilos. Infelizmente a Igreja, em vez de aplicar as leis que a outros exige que cumpram, escondeu-se e escondeu criminosos perante as leis dos Homens mas também das supostas leis de Deus. Aqui não há escapatória. Pouco importa que tenha sido o Papa ou o bispo xpto. Alguém o fez e fê-lo com a conivência de muitos outros. 


Mas, como disse antes, quando se começa a pensar que somos divinos e, de repente, nos fazem perceber que não somos mais do que os outros e que "os outros", os Homens menores, nos querem julgar começa-se a entrar em mais delírios. É difícil encarar a realidade e importa encontrar algum bode-expiatório. 


Infelizmente, estes delírios hão-de sair muito caro à Igreja pois, com eles, acabam por perder toda e qualquer credibilidade. Toda a gente com dois palmos de testa e que não entre em demagogias e aldrabices sabe que a pedofilia é um distúrbio sexual identificável em homossexuais e HETEROssexuais. Aliás, como não podia ser de outra forma, a maioria dos casos de pedofilia são de heterossexuais. Já agora, relembro os horrendos crimes de um certo alemão que prendeu e abusou da filha numa cave e da qual teve filhos/netos (fico confuso quanto à melhor terminologia - talvez o Cardeal tenha amigos que me possam esclarecer esta dúvida). 

O problema da pedofilia heterossexual, é que raramente é noticiada. Porquê? Porque quando uma rapariga é abusada ou não se fala ou, pior ainda, ainda se culpa a desgraçada por não ser mais recatada. Do homem é que a culpa raramente é. Coitado, ela não era recatada o suficiente e o desgraçado não soube manter os genitais dentro das calças. 

Aqui a comunicação social também tem as suas culpas. No desespero de vender noticias, faz apelo à emoção irracional das gentes. Aproveita-se, aliás, de algumas ideias defendidas pelos retrógradas que insistem em manter culturas e sociedades paradas no tempo e desfasadas das realidades e avanços sociais. Um abuso, seja ele pedofilia ou não, de um homem sobre uma mulher tem direito a dois minutos de tempo de antena. Um abuso, seja ele pedofilia ou não, de um homem sobre outro homem tem direito a semanas de tempo de antena mesmo que só se repita a noticia inicial. Pergunto-me se, por exemplo, no caso Casa Pia fossem raparigas a serem abusadas, se tal iria merecer o folclore que aquilo na altura mereceu!?...


Com este panorama percebe-se o desespero da Igreja e o porquê de agora se vir arranjar um novo demónio. A Igreja é perita em manipulações de vontades e massas. Tem 2000 anos de experiência no campo. Sabe onde, quando e o que dizer. Joga, brinca e fomenta os receios e ignorância das pessoas e estas declarações são exactamente isso. 


Homenzinhos seriam se soubessem arrecadar com as consequências dos seus actos mas já todos perceberam que no clero não há homens. No clero há qualquer coisa que nem é homem nem é divino... Falta ainda saber o que lhe chamar.