Da Educação



Após um largo interregno em que deixei de falar de educação, por cansaço do assunto e por achar que não havia muito interesse em falar, de facto, do que é importante, volto ao assunto.

Desde que o Partido Socialista chegou ao poder que o sistema educativo português tem sido alvo de sucessivas e rápidas mudanças com vista à melhoria do desempenho do mesmo. No entanto, passados muitos e conturbados tempos, objectivamente nada mudou, pelo menos quanto ao desempenho. Poder-se-ia dizer que, por ventura, até se andou foi para trás. O que começou com uma inegavel vontade de mudar as coisas do PS acabou por ser só isso, vontade (se calhar até má vontade). Tudo o resto correu mal. Correu mal porque o PS não fez o que devia ter feito e o que fez foi mal feito. Numa onda pouco coerente e pouco lúcida decidiu hostilizar os professores fazendo deles um bode expiatório para todos os males da educação. Esqueceu-se que, se é certo que sem alunos não há escola, sem professores ela também não funcionará lá muito bem, na melhor das hipóteses.

No entanto, e por coerência, a culpa não morre do só do lado do governo. Do lado dos professores houve também falta de coerência e lucidez. Andou-se aos ziguezagues com a questão da avaliação de desempenho e tornou-se esse assunto como o cerne de todos os males da classe. Certamente que a muitos professores pouco interessava a avaliação fosse ela de que tipo fosse ou que objectivo tivesse. Escuso-me a dizer, por me parecer mais do que óbvio, as razões porque alguns não a queriam. Outros, mais lúcidos, perceberam a encrenca burocrática que seria a mesma e trataram de se opor ao modelo. Infelizmente, ambos fizeram disto do estatuto da carreira docente cavalos de batalha como se estes dois assuntos fossem o verdadeiro mal e o fim do sistema educativo.

Infelizmente, os verdadeiros males do sistema educativo continuam por resolver. Nesses não há governo que lhes toque ou professores a fazerem manifestações. O governo só mexe naquilo que lhe pode trazer benefícios económicos ou melhoria das estatísticas, independentemente da realidade dos factos. Do lado dos professores, apenas houve e há manifestações quando lhes alteram o status quo do seu modus operandi. Em suma, ambos só são capazes de se mexerem quando lhes vão ao bolso.

Reparem que, nos programas, nos manuais (quer pelo preço quer pelo seu conteúdo), nos, por vezes, patéticos exames nacionais, na falta de segurança em alguns estabelecimentos de ensino, nisto poucos falam e ninguém faz greves. Os sindicatos entram mudos e saem calados, fazendo apenas alarido mas mais nada. Mas percebe-se o porquê disto. Vejamos:

O governo não faz melhores programas porque assim consegue artificialmente melhorar algumas estatísticas partindo para a estupidificação dos alunos. Os Professores não falam porque também lhes é conveniente. Ao fim ao cabo, perante a falta de motivação dos alunos, os [Professores] que ainda vivem na ilusão de um ensino de qualidade, desmotivam e juntam-se aos outros para os quais ser Professor é apenas uma profissão como outra qualquer, importando apenas o cheque no final do mês.

Nos manuais, os jogos de interesses têm de ser cuidadosamente balanceados. Há que ter em conta que ,às editoras interessa o dinheiro da sua venda e, por conseguinte, interessa que os livros fiquem o mais barato possível, de modo a maximizar os lucros. O governo, esse, tem que lidar com o jogo de interesses das editoras. Os Professores estão divididos entre os que fazem bons manuais, os que fazem maus manuais (a quem pouco interessa que se mexam nestas coisas) e os que opinam sobre os manuais. Em todo o caso, a questão dos manuais pouco importa a alguém que se mexa. nela. Preferem todos manter as coisas como estão do que arriscar mudar para depois verem os seus interesses prejudicados.

Imagem retirada daqui.

E depois é claro que ainda entram os papás e as mamãs dos alunos. A estes, perdão, à maior parte destes, o que interessa é que o filho não chateie, não incomode e que passe de ano para depois se enfiar o petiz num estabelecimento de Ensino Superior donde sairão doutores e engenheiros de coisa nenhuma, prontos para irem para o desemprego ou emprego precário. Mas o que importa é que não incomodem.

Aliás, os problemas do ensino existem porque, essencialmente, ninguém está disposto a incomodar-se com os problemas dos outros. Afinal desde que os alunos passem, os salários sejam pagos sem grandes chatices e ninguém seja obrigado a dar o melhor de si (Professores, alunos e pais) está tudo satisfeito. O que importa é não haver incómodos.

7 comments:

Em@ said...

Estou tão cansada...já não consigo ouvir falar disto. sei que esta é a pior posição que eu podia tomar neste momento, mas tudo isto me faz mal ao estômago... mas é só até recuperar o fôlego.
no entretanto sorri com os cartoons.
deixo-te um beijo

Elenáro said...

Não és só tu que estás cansada, Em@. Eu estive tanto tempo calado e certamente voltarei para o silencio porque também me esgotei de "dialogar" com surdos.

Os que não foram e são surdos também me parece que se cansaram de falar nestas coisas e partiram como eu para outros assuntos.

Honestamente, nem sabia se havia de voltar a tocar no assunto educação aqui porque cheguei a um ponto em que, quem fez a bosta que a limpe e que sirva a carapuça a quem quiser. Estou um bocado na onda de, quem vier atrás que feche a porta.

Um beijinho Em@.

jad said...

Pois é!

Há um ano, no rescaldo da euforia, andávamos em grandes discussões sobre que sentido dar à educação e à actividade docente. Foi bom porque falta-nos espaço de discussão aberta, decente, inteligente. Mas o teu post traz-nos o desencanto de volta. Por formação aprecio uma boa discussão. contudo, quando a ela se sobrepõem preconceitos procuro outro espaço para dizer o que penso. E, neste caso, não estávamos preparados para a frustração, como tantas vezes fui perguntando, lembras-te (lembram-se)?

A educação não está bem. Por isso, precisamos de a pensar.

Abraço.

Elenáro said...

Olá jad!

Precisamos mesmo de a pensar. Mas precisamos de o fazer com ponderação e sobre aquilo que mais importa.

E sim, lembro-me bem do que tu dizias na altura. De facto, ninguém estava preparado para as frustrações.

Um abraço!

Anabela Magalhães said...

Post muito lúcido sobre as nossas euforias/frustrações/abandonos.
Enfim! Passados todos estes anos uma coisa eu sei - estamos pior!
Bjs

Elenáro said...

Obrigado Anabela.

Concordo, estamos pior.

Elenáro said...

P.S.: Reparei agora nas inúmeras gralhas que ele tem. As minhas desculpas mas ele foi escrito sem grande verificação (leia-se leitura) posterior. Assim que possa tratarei de o emendar.