Hoje em dia, em Portugal, fico com a sensação que, quanto maior é a escolaridade de uma pessoa e a respectiva posição profissional que ocupa, menor é a sua capacidade para entender o mundo real. Nas faculdades portuguesas, temos professores doutorados que nunca fizeram horas de serviço em lado nenhum ou as últimas que fizeram já fazem quase parte, diria eu, da "pré-história".
Isto acontece em grande parte das áreas disciplinares. Das engenharias às humanidades o cenário parece-me ser o mesmo. Temos professores de engenharia a ensinarem coisas que nunca viram à frente salvo nas imagens dos livros. Temos professores de economia que nunca trabalharam em empresa alguma, limitando-se a fazerem estudos e lerem também mais uns quantos livrinhos. Temos professores a leccionar em cursos de acesso à carreira docente a ensinar coisas que para eles ou é teoria pura ou é teoria do passado. A última vez que puseram um pé dentro de uma escola com crianças, sejam elas de que idade forem, vai já há tanto tempo que se torna quase um ensino da história do ensino.
O resultado disto é o que se vê. Temos licenciados que saem das universidades mal preparados e, em muitos casos, completamente e perfeitamente desactualizados da realidade actual. Podia dizer que isto se deve aos dinossauros da vida profissional portuguesa, aqueles que já ganharam o deles, já fizeram carreira e agora agarram-se ao lugar por uns meros trocos ou por simples medo de os deixarem de ouvir. Infelizmente, estes não são os únicos. Há professores mais novos na mesma situação. Sem experiência profissional ou qualquer conhecimento actual da realidade cientifica em que se inserem.
Como se isto não bastasse, para além de não darem lugar a quem verdadeiramente sabe para ensinar e tem capacidade para o fazer, ainda se dão ao trabalho de sabotar toda e qualquer concorrência logo à nascença. Ou os alunos se mostram submissos e, como tal, não se mostram ameaças aos seus lugares estabelecidos ou então sofrem a ira dos "instalados".
Pior do que isto, são os que insistem em dizer que sim com a cabeça a estes instalados, muitos dos quais fizeram nome antes mesmo dos actuais alunos do ensino superior terem nascido. Ao dizer-se que sim a a, b ou c só porque têm um nome "pomposo" ignorando todos os demais, com ou sem nome, leva-nos ao ponto em que chegamos em Portugal. Um país que teóricos que não vê a realidade dos factos, que se recusa mesmo a sequer fazer o esforço de abrir os olhos, e que se encontra hoje sem rumo e sem destino. Um país de feitos heróicos, hoje atirados para o esquecimento porque os actuais líderes e "fazedores" de líderes são demasiado pequenos, mesquinhos e, diria mesmo em alguns casos, imbecis para os igualarem.
O Ensino Superior, o sítio onde grande parte dos líderes de amanhã poderiam hoje ser feitos, está tomado por gente que pouco mais que o seu próprio umbigo vê. Gente que a sua maior ambição era chegar onde chegou sem mais nenhum objectivo na vida. Alguns, arrisco dizer, nem sabem bem até como lá chegaram. Infelizmente, esta [muito] pequena elite soube-se proteger bem dum exército de bajuladores sem vontade própria que vêm na oportunidade de repetir o que "o grande" diz uma hipótese de subirem na vida.
Felizmente, o futuro ainda pode ser salvo pois, como disse antes, esta elite é pequena e em muitos casos já próxima do caixão. Restará à restante maioria de professores actuais e futuros tomarem a rédea do Ensino Superior e levar os alunos a bom porto pelo bem de todos os cidadãos deste país que é Portugal.
6 comments:
Concordo com a tua visão e apenas acrescentaria que existe gente de mais que passou a vida numa sala de aula e em que a única coisa que mudou foi a sua posição em relação ao quadro. Aliás basta ver o que escrevem alguns dos responsáveis das nossas ESE´s para descobrir que para eles parece não existir vida para além do campus.
Visão acertada, concordo e acredito no mesmo.
Excelente análise, Elenáro! Só não me parece que esta nova geração consiga mudar seja o que for. Acho mesmo que com eles ainda vamos piorar. Oxalá me engane...
Concordo Martins. É preciso viver o mundo e não apenas vê-lo.
Obrigado pelo comentário, Gorete.
Anabela
Não percebi se te referias à geração actual que se encontra no activo ou se te referias à geração mais nova.
Em todo o caso, as coisas não mudam agora só se não quisermos. Se continuarmos a querer a mesma receita dos últimos 30 anos não mudaremos mesmo.
Post a Comment