A propósito de um post d'
O Jumento onde se fala da regionalização achei apropriado trazer à luz da ribalta algumas verdades sobre este assunto.
Os que são contra dizem que Portugal é pequeno, é mesmo dos mais pequenos da Europa. Bem, quem diz isto não olha para as estatísticas ou, então, está a mentir para defender interesses próprios, nomeadamente os de Lisboa que fica horrorizada só de saber que terá que dar dinheiro para que Trás-os-Montes ou Beira Interior tenham recursos para se desenvolver.
Repare-se nos dados seguintes.
Na União Europeia temos 27 países. Desses 27 países, Portugal ocupa o 13º lugar em termos de área e o 9º em termos de população (dados retirados do
Eurostat referentes a 2010). Ou seja, em área estamos acima do meio da tabela com 14 países mais pequenos e em população estamos mesmo nos 10 primeiros. Como alguém teria dito "
e esta, hein?!"
Se olharmos para aqueles que estão perto de nós em área e população reparamos que aqueles que são ricos estão regionalizados de uma forma ou de outra. Holanda, Bélgica, Áustria, Suíça (fora da UE) e mesmo a Dinamarca estão todos regionalizados. Destes, Portugal é o maior de todos em área e em população só a Holanda é maior. A Bélgica, Áustria e Suíça não só estão regionalizados como são mesmo federações ou confederação no caso da Suíça. A Dinamarca é aquele que está apenas regionalizado e isto apenas desde 2007 pois até aí a Dinamarca estava divida em condados os quais podiam cobrar impostos.
Note-se também que destes, Holanda, Dinamarca e Suíça são pouco maiores que o Alentejo, chegando a Bélgica a ser mesmo mais pequena em área. Isto é, em dimensão territorial Portugal é duas vezes maior do que qualquer um deles. Apenas a Áustria se mantém mais ou menos ao mesmo nível em área territorial.
Fora destes fica a Irlanda a qual não está regionalizada mas note-se que a Irlanda tem menos de 4,5 milhões de habitantes numa área ligeiramente mais pequena que Portugal. Ficamos então com um caso contrário de um país que se desenvolveu sem estar regionalizado mas note-se que a Irlanda, por tradição, não sofre do centralismo desmesurado que se verifica em Portugal.
Depois temos ainda a Grécia (sensivelmente igual em população e área a Portugal) que, não estando regionalizada, está, curiosamente, na mesma situação que Portugal. Mostra-se incapaz de ter uma economia em franco crescimento, deficits altíssimos e uma situação financeira crítica.
Em qualquer um dos países regionalizados também se verifica uma maior equidade nacional em termos de desenvolvimento do que se vê em Portugal ou Grécia. Em ambos, a capital assume um papel excessivamente preponderante face ao resto do país, possuindo um rendimento ao nível das zonas mais ricas da Europa enquanto que o resto dos seus países encontram-se nas regiões mais pobres dessa mesma Europa.
Então temos países administrativamente divididos e/ou com um sistema de Welfare State (Estado Social) bem estabelecido os quais conseguiram ter um nível de qualidade de vida muito alto e taxas de crescimento económico capazes de pôr o país a andar para a frente. Temos um outro país que, embora não se tendo regionalizado, não assumiu um modelo de desenvolvimento centralista, apostando noutro tipo de investimentos.
Por outro lado, temos dois países, Portugal e Grécia, que apostaram em modelos de desenvolvimento centralistas. Ambos foram incapazes de acompanhar o resto da Europa e, neste momento, estão com problemas de coesão nacional com uma região a usar os recursos do resto do país para o seu crescimento enquanto que o restante território empobrece. Ambos estão a braços com uma crise económica sem precedentes na história recente com problemas de natureza financeira à mistura. Ambos tiveram de pedir empréstimos para pagar as suas dívidas.
Sem ser do ponto de vista económico, do ponto de vista cultural, muitos argumentam sobre aquela coisa de Portugal ser uma nação única e indivisível em todos os seus momentos da história. Se assim fosse, deveríamos ter uma país mais ou menos homogéneo linguística e culturalmente falando (isto até porque quem diz isto, geralmente, diz que o país é pequeno). Bem do ponto de vista da língua, num país tão pequenos temos duas línguas, Português e Mirandês. Temos ainda, dentro da primeira uma diversidade tal de sotaques e palavras típicas das regiões que até mete medo para um país que se diz "pequeno". Vos garanto que eu vou a Lisboa e, se quiser, falo português e ninguém me entende. Quem experimentar por um transmontano a falar com um algarvio como ambos falam normalmente e com os regionalismos de cada um, ambos terão mais facilidade em perceber um Espanhol a falar Castelhano. Culturalmente, os costumes do Norte não são os da gente do Sul e mesmo a maneira de estar na vida é bem diferente das gentes do Norte, Centro, Alentejo e Algarve.
Isto prende-se, para quem lê história e não fala do pé para mão, com o desenvolvimento do país que foi um aglomerar de regiões com povos diferentes. Até a história de sermos Lusitanos é uma grande aldrabice. Primeiro porque a Lusitânia compreende apenas uma região e povo situado a norte do Tejo e a sul do Douro. Só mais tarde é que as tribos Galegas (Gallaeci - romanização do grego Kallaikói) adoptaram para si o nome de Lusitanos como termo denominador de todos os povos na Península que lutavam contra os Romanos. Aliás, Viriato é herói Português mas também Espanhol...
O conceito de nação, algo que se quer convencer as pessoas que sempre existiu, é relativamente recente do ponto de vista histórico. Não nos vamos esquecer que, os Reinos eram as terras do Rei e não nação coisa nenhuma.
Assim sendo, e embora o post não seja perfeitamente neutro, não vou dizer se se deve ou não regionalizar o país mais do que deixei implícito. Deixo a liberdade aos leitores para tirarem as suas próprias conclusões face a tudo o que apresentei.
As melhores decisões são aquelas que tomamos quando desconstruirmos aquilo que nos querem impingir, geralmente, com segunda intenções e construímos as nossas próprias ideias e valores. Em vez de aprender aquilo que se houve e lê cegamente deve-se usar os factos para fazermos nós a nossa própria aprendizagem pessoal em vez de assimilarmos apenas informações, ideias e valores em segunda mão. Foi isso que tentei fazer com este post, contribuir (não se forma exaustiva) para o esclarecimento sobre esta temática que tanta demagogia e mentira faz por aí circular por quem apenas pensa nos seus próprios interesses.
Fontes:
Eurostat
Wikipedia