O que o país precisa


Portugal se quiser sair da situação em que se encontra precisa de fazer uma séria de mudanças quer a nível político, quer a nível sócio-cultural. Por ordem de prioridades, deixo aqui o que penso ser preciso para que se mude esta carcaça velha em que se tornou Portugal. Já agora acrescento que não guardo esperanças de que alguma coisa irá mudar.


1- Portugal precisa de se renovar socialmente. A sociedade civil tem de perceber que o seu destino está nas suas mãos e não nas mãos dos outros. Tem de haver mais empenho e participação dos portugueses na vida política, quer ao nível dos partidos, quer ao nível de movimentos cívicos e outras organizações. Não quero dizer com isto que se façam mais greves a torto e a direito e sempre pelos mesmos. Não quero dizer com isto que se venha para a rua fazer umas "festas" onde se insulta tudo e todos, de maneira por vezes vil, chamando-lhes "manifestações" e "protestos". Quero dizer com isto que tem de haver mais envolvimento nas decisões e posições de partidos. Eles só mudam as suas posições quando quem lá está dentro é forçado a mudar. Para isto é preciso que haja mais gente envolvida. A sociedade civil tem de fazer uso dos mecanismos legalmente previstos na constituição ou, então, fazer com que se criem outros que possam faltar.

Em suma, o cidadãos deste país têm de fazer uso a esse nome. Todos têm de deixar de dizer mal e passar a fazer algo. Chega de protestar e na altura devida nada fazer. Há que passar das palavras às acções, não em greves ou acções espontâneas mas todos os dias nas nossas acções diárias. A velha desculpa de "eu não falo de política porque não gosto e não me interessa" foi o que nos levou a esta situação e é o que nos mantém nela. Talvez seja altura de se ir para o café a discutir como fazer melhor que os políticos em vez de se ir a falar na novela, futebol ou no puro insulto a tudo e todos.


2- Tem de haver uma racionalização da educação em Portugal. Tem de chegar ao fim a "escola depósito" de crianças e jovens. A escola tem de ensinar e tem de ensinar aquilo que precisa de ser ensinado doa a quem doer. Quem não gosta ou não é capaz, que se retire e dê lugar a quem sabe e quer fazer o que tem de ser feito. No seguimento disto, temos de levar para as escolas aqueles que são capazes para dar aulas e tirar os que lá estão porque não arranjaram nada melhor para fazer ou porque tiraram um curso que só serve para aquilo mas que não é a sua vocação profissional. Tem de se dar aos alunos que querem aprender as condições para o fazer e tirar da escola os que não querem. Esses últimos que se desenrasquem da forma que quiserem e acharem mas conveniente (e se optarem pelo crime, temos de dar meios a quem de direito para os levar à Justiça e pô-los atrás das grades) mas, se não querem estudar, não podem prejudicar quem quer. 

O Ensino Superior tem de ser forçado a redireccionar o seu trabalho para servir o país, a sociedade civil e a economia e não quem lá trabalha. Os professores do Ensino Superior têm de deixar de usar as instituições públicas onde leccionam para a auto-promoção ou como refúgio profissional. Também aqui é preciso trazer os melhores e/ou os mais capazes e não falo apenas na média com que terminam o curso mas sim com um percurso profissional que os habilite a proporcionar a melhor transmissão de conhecimentos face à realidade da área em questão. Não podemos ter professores a dar aulas hoje como as davam há 25 anos atrás, pois o mundo muda todos os dias e é preciso que haja uma adaptação constante aos novos factos científicos e sociais. Não podemos ter apenas, num ensino profissionalizante, teóricos e académicos que nunca saíram da sua sala de aula ou do seu laboratório. Tem que haver complementaridade entre os dois por forma a que os alunos não saiam de lá enciclopédias de carne ou meros papagaios.  


3- O mundo empresarial tem de mudar apoiando-se, entre outras coisas, nos dois pontos anteriores (aposta numa verdadeira qualificação dos trabalhadores e numa autonomia face ao poder "paternal" do Estado). Os portugueses têm de ser mais audazes no seu mundo profissional. Os portugueses têm de deixar para trás a ideia de arranjar um trabalho para a vida a trabalhar para outro. Tem de haver empreendedorismo (esta bonita palavra de que tantos falam mas que poucos fazem) da parte dos trabalhadores. Mas porque não havemos de ter todos em mente, um dia, termos a nossa própria empresa, fundando-a ou querendo chegar à direcção de uma grande empresa já existente? Tem de acabar a ideia de se apontar para os quadros médios e mediocridade como objectivo final profissional. 

Os empresários actuais têm também de aprender a inovar e a gerirem as suas empresas, não como a mercearia da esquina, mas sim como uma entidade económica capaz de crescer nos tempos bons e de se aguentar nos tempos maus. Não se pode continuar com a ideia de que a empresa é para dar lucro amanhã para se poder construir uma vivenda. Os empresários e gestores têm também de mudar o paradigma de remuneração dos seus funcionários, não querendo que estes trabalhem no seu melhor pelo menor preço possível. Os salários e remunerações têm de reflectir o valor real do trabalho de cada um. Também tem de acabar a ideia do "trabalho" não qualificado barato como escolha preferencial para os quadros das empresas. Tem de se apostar na formação dando-a aos que já lá estão e indo buscar quem a tem. A questão experiência/formação tem de estar no cerne da decisão de quem se contrata e não o valor do salário. 


4- O Estado tem de ser redefinido. Tem que se decidir para que é que se quer o Estado e o qual o seu papel na sociedade portuguesa. Estado mínimo ou Estado Social? É importante definir isto tudo e depois fazer as mudanças e ajustes necessários, com coragem e doa a quem doer sem se ficar refém dos interesses individuais seja de quem for. O Estado tem de saber qual a sua missão e fazê-la da maneira mais eficaz. Para isto precisa de ir buscar os melhores e não os amigos. Precisa de ter capacidade de renovação de quadros por forma a se tirar quem nada faz e trazer quem faz. Sobretudo, o Estado, tem que remunerar os seus funcionários de acordo com o valor do seu trabalho e não a chapa sete, tratando bons e maus da mesma maneira. 


5- A sociedade portuguesa tem de se habituar a conviver bem com o mérito pessoal/profissional dos seus indivíduos. Há premiar e valorizar o mérito e não as amizades ou conveniências pessoais. O paradigma social do supérfluo e conveniências tem de acabar. A cunha tem de ser criminalizada do ponto de vista social, nem falo do ponto de vista legal. A idade tem de deixar de ser um posto por ela própria. Certo que, geralmente e por uma razão de lógica (embora, por vezes, ela seja uma batata), a idade trás experiência mas experiência sem conhecimento para a usar bem de nada serve. A sociedade do mérito tem de ser o objectivo final e tem de se dar (ponto 2) a possibilidade de todos poderem ter mérito em alguma coisa. Sobretudo, há que parar os típicos actos de sabotagem do mérito. A mesquinhez de, quando não se consegue dizer/fazer melhor que alguém, se atacar o carácter da pessoa tem de acabar. As pessoas têm de ganhar uma coisa muito importante: respeito, a começar pelo respeito por elas próprias.

2 comments:

Anabela Magalhães said...

Excelente post, Elenáro, que eu subscrevo praticamente na íntegra.
Todos devemos ter uma conduta responsável e empenhada e cada um fica com os seus actos e as suas contribuições para o colectivo.
beijos

Elenáro said...

Obrigado, Anabela.

A responsabilidade tem de ser, primeiramente, individual.

Já agora com o que é que não concordas? Beijos.