Um país que vive da inveja, insulto, calunias e intrigas - Parte 1.



- Imagem retirada daqui.

Ultimamente tenho andado a aperceber-me de um fenómeno interessante que, existindo já em larga escala na sociedade "real" passa agora, como não podia deixar de ser, para sociedade "virtual".

Em Portugal, o populismo desenfreado sempre existiu e sempre foi fomentado por quem pode e comido por quem deve. Aliás, arrisco dizer que se criou uma dependência dele como se um vicio se tratasse. Hoje já não se vive sem ele.

Mas então que populismo é este ao qual me refiro? Bem, é o populismo no seu verdadeiro e literal sentido, daquilo que é popular. Neste matagal à beira mar plantado, o que se quer é festa e "jorda". Os portugueses ficaram habituados a viverem em constantes festas e "jordas". Certamente para esquecer os problemas que os rodeiam. Os portugueses são um povo fraco que não sabe lidar com as adversidades (ou adversários). Perante algo que se opõe a ele, um português desvia-se, recusa-se enfrentar a adversidade procurando sempre a saída mais fácil. Para isto, nada melhor que a referida terapêutica das festas e "jordas". O que importa é que toda a gente possa berrar e insultar, deitar cá para fora todos os excrementos que lhe ocupam o cérebro.

Repare-se o que move este país. Festas, futebol e intrigas. São os jogos de futebol que levam todos a porem uma bandeirinha (comprada nos chineses pois são mais baratas - que importa se estão ou não bem feitas ou se até são contrafeitas) na sua janela. A visita do Papa interessa pois é mais uma festa que se vai fazer, até já se fala em colocar qualquer coisa ao dependuro na janela também. Finalmente aparecem as intrigas. São os casos "mediáticos" que sabe lá Deus como vão parar aos jornais, são as negociatas estranhas deste e daquele, são as teorias de conspiração deste e daquele sobre o outro e o aqueloutro... Por aí fora.

Veja-se como ficam os portugueses contentes quando algum político, dirigente sindical, comentador ou algo parecido, vem para a comunicação social insultar alguém. Não importa quem. Se se concorda pede-se logo o linchamento do insultado, se não se concorda pede-se o linchamento do insultador. Agora repare-se quando alguém vem dizer coisas sérias e, geralmente, desagradáveis ao ouvido mas de forma tranquila e sem insultar ninguém: muda-se de canal, vira-se a página de jornal para a secção desportiva ou compra-se uma revista cor-de-rosa. 

3 comments:

Anabela Magalhães said...

Portugal está doente... ou será que é doente?
Postagem lúcida, Elenáro.

Martins said...

Elenáro

acho que este texto encaixa como uma luva no teu...


A. O triunfo da frivolidade mediática da política — que é também a banalização política dos media — já se pôde verificar com eventos promovidos pelos mais diversos partidos. Não é, portanto, uma qualquer questão ideológica que está em jogo. Em todo o caso, o balanço televisivo do congresso do PSD tem qualquer coisa de profundamente perturbante, para não dizer assustador.

B. As televisões insistem em celebrar o anedótico e o pitoresco: um congresso que vai durar dois dias, mas pode ser só um; uma personalidade que pode aparecer, mas não se sabe onde está; alguém que diz uma coisa quando quer dizer outra... O certo é que se instalou uma espécie de adequação perversa a tal dispositivo de (des)informação. Como? Dir-se-ia que as própria entidades políticas se esforçam por encaixar nessa matriz burlesca que as televisões lhes oferecem como uma montra festiva, sempre bem disposta, militantemente empenhada em que não haja tempo humano para pensar seja o que for.

C. O mais extraordinário é que este espectáculo de generalizada infantilização seja vivido como lídima expressão das virtudes democráticas. Pelo meio, há sempre alguém que se mostra preocupado com o facto de os "jovens" não se interessarem pela política — convenhamos que é uma boa piada.

PUBLICADA POR JOÃO LOPES EM DOMINGO, MARÇO 14, 2010

Elenáro said...

Anabela

Levantaste uma questão interessante e posto assim, inclino-me mais para dizer que Portugal é doente.

Martins

Obrigado pelo texto. De facto vem na linha do que digo.

Gostei particularmente da maneira como ele termina: "Pelo meio, há sempre alguém que se mostra preocupado com o facto de os "jovens" não se interessarem pela política — convenhamos que é uma boa piada."