Com os políticos portugueses é tudo conversa

 
Ouvem-se agora, de quase todos os políticos, uma crescente preocupação com os gastos públicos, com o crescimento económico, com a nível e qualidade de vida dos portugueses. Resumindo, de repente, criou-se uma consciência político-moral com as injustiças do país. Isto é, na minha modesta opinião, uma grande aldrabice e falsidade.

Repare-se que, já com sérios problemas orçamentais, José Sócrates decidiu gastar 8 milhões de euros (se a memória não me falha) na renovação da Assembleia da República. Instalou computadores (situação inédita nos parlamentos europeus - incluindo o próprio Parlamento Europeu) para os deputados poderem aceder aos jornais nacionais, blogues e tudo o mais que pouco ou nada se relaciona com o trabalho e funções de deputado. Houve algum partido que se tenha oposto a este gasto perfeitamente adiável, se não mesmo desnecessário? Obviamente que não. Do BE ao CDS, fez-se o silêncio.

Depois, com tanto problema para resolver, achou-se que era necessário mexer na Lei de Financiamento dos Partidos. Podia até sido para limitar o financiamento por forma a poupar dinheiro ao Estado mas não. Contrariamente foi antes aprovada uma nova lei que deixa abre portas à corrupção e ainda, haja espanto, possibilita que os partidos políticos multados durante as eleições possam ver essas multas deduzidas e, portanto, reembolsadas pelo Estado. Não me recordo de ter havido muito alarido sobre isso. Aliás, lembro-me até de um jornalista ter dado esta notícia de fugida e como se tivesse dito a maior banalidade do mundo.

Em cima disto, Portugal tem gastos perfeitamente absurdos com a Assembleia da República. Em 2010 gastou-se 191.405.356,61 € com os senhores deputados e demais companhia. Não, não se engane o leitor, leu bem. Foram mesmo gastos mais de 191 milhões de euros.

Mas escusamos de ficar por aqui. Olhemos para os dados dos gastos da nossa Presidência comparados com várias monarquias europeias. Os dados não são do mesmo ano mas os valores são suficientes para comparação.

Presidência da República Portuguesa (ano 2010): 20,7 milhões de euros - 1,9 € per capita
Casa Real Britânica (ano desconhecido): 48,8 milhões de euros - 0,81 € per capita
Casa Real Sueca (ano 2006): 5,13 milhões de euros - 0,55 € per capita
Casa Real Espanhola (2009): 8,9 milhões de euros - 0,19 € per capita

Sabia, então o leitor, por exemplo, que a nossa Presidência da Republica custa 3 vezes mais do que a Casa Real Espanhola? Sabia o leitor que a nossa Presidência da República custa, a cada português, mais de duas vezes o que custa a Monarquia Britânica a cada britânico? Ou ainda que cada português paga 4 vezes mais do que paga um Sueco pela sua Monarquia? Mas alguma vez ouvi-se alguma partido a falar da necessidade de cortar os gastos com o Senhor Presidente e afins? Alguma vez se ouviu o próprio Presidente a falar do mesmo, embora fale muitas vezes da necessidade de cortar os gastos com o Governo?

Por vezes ouço falar do argumento que uma monarquia fica muito cara e que uma república fica mais barata... Pois bem, a julgar pelos gastos, tragam-me uma dois Reis Juan Carlos para cá que, mesmo assim ainda ficamos a ganhar do que com um só presidente.

Enquanto os portugueses continuarem a ouvir, acreditar e votar nestes senhores perfeitamente demagogos, se não mesmo mentirosos, não iremos sair da cepa torta. Quem quis cá o FMI agora tem a prova que isso não seria oportunidade nenhuma. A vida do FMI não trouxe nada de novo pois quem vai pagar a factura das tretas dos nossos governantes/políticos são os do costume. O que devia ter sido cortado não foi pois continuam os mesmos responsáveis pela crise, quer no governo quer na oposição. Se a oposição passar a ser governo nada mudará na mesma pois continuarão a ser os mesmos a governar só que em lados opostos do pódio da Assembleia.

6 comments:

Gorete said...

Olá,
Enquanto não houver uma mudança profunda nas mentalidades, não iremos a lado nenhum. Uma das características dos portugueses é a do "individualismo invejoso" e como tal, não pensamos no bem comum. A nossa sociedade está falida de valores, com pessoas com pouco ou quase nenhum sentido crítico e com pouca capacidade de visão.
:)

Manuel said...

Elenáro este teu pensamento é um bocado perigoso.
Que as nossas instituições saem caras para aquilo que produzem até concordo, que devem ser um local privilegiado para cortes, de certeza nem que seja para dar o exemplo, mas nunca as trocaria por uma ditadura a 0.25 euros por cabeça

Elenáro said...

Olá Gorete!

Concordo mas eu até acho que nem seria preciso pensar no bem comum, no sentido de pensar no bem dos outros pelos outros.

Se as pessoas pensassem que ao pensarem, muitas das vezes, no bem dos outros, estão a pensar no seu próprio bem.

Dou um exemplo que até nem está relacionado com a economia/politica. A questão da condução das pessoas. Se houvesse mais civismo, haveria menos acidentes nas estradas. Os condutores e os peões ficariam ambos mais seguros.

E quem fala destas questões sociais fala das outras, não "sociais". O problema é que, por alguma razão, as pessoas nem isto conseguem ver/perceber.

É uma tristeza, Gorete.

Obrigado pelo, comentário.

Elenáro said...

Mas que ditadura? Alguns dos exemplos que referi são ditaduras? Não percebi essa parte.

Mas concordo que o pensamento seja perigoso. É perigoso para os políticos que vêem a política como a sua oportunidade de enriquecer e fazer "vida". É perigoso para os tachos que existem no Estado. É perigoso para os incompetentes que andam pelo Estado a ocupar lugares para os quais não têm o mínimo de competências.

De facto, não posso discordar que, neste sentido, seja perigoso. Fico sem perceber, para além disto, em que é que a minha linha de pensamento é perigosa... Sobretudo, fiquei sem perceber a relação entre isto e uma ditadura...

Gostava de ter um esclarecimento.

Gorete said...

Olá,
Era mesmo aí que eu queria chegar, se calhar, não me expressei da melhor forma.

Elenáro said...

Então estamos mesmo de pleno acordo, Gorete. :)