O pior inimigo dos Portugueses?


Um estimado leitor enviou-me por email uma sugestão para um post o qual eu achei interessante. Segundo o mesmo email, o texto é de Eduardo Prado Coelho, contudo, pelo facto de ter sido um email, não sei se a autoria é mesmo do senhor. Como tal, e porque não lhe posso ir perguntar, fica como se fosse. Em todo o caso, o que importa para mim, é o texto em si. Será exagero ou será a mais pura das realidades? Será que é um presságio de um país sem futuro?

Deixo a questão para reflexão de cada um como sugere o email. Desde já os meus agradecimentos ao JR por me ter enviado esta sugestão. Tens razão, gostei mesmo do email pah!

P.S.: Um pedido a quem manda emails destes em cadeia. Se querem mandar emails em cadeia fazendo-se dizer que são de pessoa X, Y ou Z, sejam homenzinhos e mulherzinhas e ponham os originais! Não alterem textos com corzinhas bonitinhas, maisculas onde elas não existem e sobretudo, NÃO MISTUREM COMENTÁRIOS VOSSOS COM O RAIO DO TEXTO ORIGINAL! A gerência agradece. (Oh JR, isto não foi para ti moço! lol)



Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007), teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos, por isso façam uma leitura atenta. Precisa-se de matéria prima para construir um País.

Eduardo Prado Coelho - in Público

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.

Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a esperteza é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.

Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.


Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal e se tira um só jornal, deixando-se os demais onde estão.


Pertenço ao país onde as empresas privadas são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,
como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque
conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país:


-Onde a falta de pontualidade é um hábito.


-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.

-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.

-Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. -Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.

-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.

-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.

-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.


-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.


Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta. Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa "chico-espertice portuguesa" congénita,essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte... Fico triste.

Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.

Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa ? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados !

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento
como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro de que o encontrarei quando me olhar no espelho.

Aí está. Não preciso procurá-lo noutro lado. E você, o que pensa ?... medite!

7 comments:

Anonymous said...

Professores unidos: tantos e tão poucos

jad said...

Elenáro
Recebi este texto via email há muitos meses. Subscrevo o comentário inicial, Também acho que um texto vale (ou não) por si mesmo, independentemente do seu autor. Claro que não existem textos sem autor, que escreve num determinado sítio e tempo. Mas um texto para ser bom tem que viver com o cordão autoral cortado.
Continuo a achar que, no meio da poeira que se vai levantando com tantas palavras insensatas, vale a pena visitar quemj pensa e sabe dizer o que pensa. É o caso do "Desvarios"e dos comentários que Elenáro vai deixando noutros sítios.

Elenáro said...

Jad

Peço desculpa não ter respondido mais cedo.

Agradeço também o comentário. :)

De resto concordo inteiramente consigo. Um texto para ser bom tem que viver com o cordão autoral cortado. Sem sombra de dúvida que a qualidade duma obra não pode estar associada ao nome de quem a escreve. Tem que valer por ela própria.

jad said...

Estive fora, sem internet.
O "desvarios" é um destino permanente das minhas viagens pela blogosfera. Cá nos vamos encontrando. Com muito gosto meu.

Elenáro said...

O gosto é meu também Jad em tê-lo como leitor. Mais uma vez o meu muito obrigado.

Anonymous said...

que se pode escrever?! razão não lhe falta, seja lá quem é a alma iluminada (ou não) que escreveu este texto

só um reparo, é que kuanto mais se olha para o espelho com olhos de ver, bem... falo por mim, descobre-se que se é uma espécie rara que por algum "milagre" da natureza assim se nasceu, num sentimento de "deslocado em relação ao mundo"

Elenáro said...

Se calhar o problema é esse mesmo. Não somos suficientemente "deslocados em relação ao mundo". :P