O acordar para a realidade



Agora que se começam a saber as medidas para a "ajuda" a Portugal, os que acharam que isto era a solução para o país devem estar todos satisfeitos, a começar pelo funcionalismo público que tanto quis ver Sócrates de lá para fora, mesmo que isso significa-se o FMI/FEEF. 

Bem, a cegueira das decisões tomadas pelo ódio e rancor sem a força da razão, está prestes a dar os seus frutos. Ninguém ainda lhes garantiu que se vão ver livres de Sócrates e, mesmo que isso aconteça, a julgar pelo que se tem ouvido da boca de Passos Coelho, não será para guardar muitas esperanças sobre as decisões do cavalheiro. Por outras palavras, mesmo que se livrem de Sócrates Rosa, poderão estar a trocá-lo por um Sócrates Laranja. 

Julgavam que iriam ficar numa situação "melhor" do que com os PECs de Sócrates. Pelo que se houve, o tiro saiu-lhes pela culatra. O que até agora era impensável vai acontecer: vão haver despedimentos na Função Pública. Os senhores de certas empresas públicas que tanto queriam, com as privatizações que se adivinham, não só não terão o que exigiram como, se calhar, ainda perdem o que ainda têm. Os que temiam perder os seus altos salários e pensões também devem começar a pensar que teria sido melhor ter agido com a cabeça e não com o coração e ainda menos com a carteira.

Em suma, queriam o FMI/FEEF para acabar com a "mama". Podem congratular-se. Conseguiram-no. Não acabaram foi com a "mama" dos políticos. Acabaram foi com a "mama" de todos os outros, mesmo aqueles que não a tinham.

Comece-se é a pensar agora, não nas medidas imediatas do acordo com Troika mas sim nos efeitos secundários delas.

3 comments:

Anabela Magalhães said...

Inqualificável é analisar os indicadores de antes da chegada de Sócrates ao poder e os indicadores actuais. Seis anos bastaram e já foram excessivos porque foram tempo suficiente para estes incompetentes esborracharem o país. Que vergonha não nos conseguirmos governar! Que vergonha termos de nos sujeitar a meia dúzia de dias de trabalho de uma troika de gente do Norte que nos dita agora as regras. Agradeço a Sócrates. Não me esqueço dele nem lhe branqueio a imagem. Ele foi, é, e será, o grande responsável da chegada a este fundo de poço. Pois ontem apresentou-se orgulhoso à Nação. Orgulhoso da merda que fez e que deixa para trás. E fez de nós parvos. Mais uma vez. A vinda do FMI era inevitável. Por mais duras que sejam as medidas e elas também não me vão agradar todas... graças a deus já não é o querido líder mais o seu boneco/marioneta Teixeira que estão no leme.
Hoje vou dormir mais descansada.
God save Portugal!

Elenáro said...

Anabela

Antes de mais, sabes que valorizo os teus comentários, mesmo quando não é para concordares comigo.

Tudo o que tu dizes não é mentira nenhuma mas permite-me agora que seja frontal na resposta que te escrevo aqui.

De facto, tudo o que escreveste é verdade. Contudo, é uma verdade a qual faltam outras verdades.

Por exemplo, ao comparares os indicares económicos antes e depois de Sócrates estás a esquecer-te que não tens um único governo desde Salazar que acabe com indicares económicos melhores do que aqueles que entrou. Desde Cavaco até Sócrates que é uma constante.

Depois, ainda neste ponto, esqueceste-te de comparar igualmente os indicadores do governo anterior a Sócrates. Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas entraram no país com indicadores bem melhores do que aqueles que deixaram. Aliás, penso que não é preciso lembrar-te que esse trio entrou para o governo com uma crise orçamental e saiu de lá a meio sem a resolver e deixando o país com mais uma crise, desta feita, económica. Pior ainda, saíram a meio com um Primeiro-Ministro a trocar o cargo por outro no estrangeiro, uma Ministra de Estado e número dois do governo que não quis ficar com o cargo (vá-se lá saber porquê) e um número três que deixou mais contas para pagar do que aquelas que tinha e tudo em negociatas duvidosas. Agora repara, fizeram isto em 2 anos. Sócrates, foi mau, certo, mas precisou de 6... E nada te garante que não vá ficar mais uns quantos depois das eleições. A ver vamos.

Para além disto, e não querendo desculpar em nada Sócrates, nunca Portugal teve um governo que tivesse de governar com os problemas internos que vêm desde que Salazar deixou o poder (senão desde a 1ª República), mais uma crise orçamental e ainda uma crise financeira e económica mundial. Barroso, em dois anos e só com crise interna, fez bem pior, tal como Guterres nos dois últimos anos de governo.

Por isso, embora não tenhas dito mentira nenhuma, ao não incluíres a verdade toda levas a uma conclusão errada. Levas à conclusão que Sócrates foi o pior e é a fonte de todos os males quando, na verdade, não é. Os problemas não começaram com Sócrates e não foi ele o único responsável por termos chegado a onde chegamos. Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, Cavaco Silva (enquanto Presidente) e ainda agora Passos Coelho.

Obviamente que isto não desculpa em nada as trafulhices de Sócrates nem a sua incompetência enquanto governante.

Tu, enquanto Professora de História, sabes bem que as coisas não são feitas de momentos isolados. Não se está bem e depois está mal. Sabes bem que tudo tem um fio condutor. Alguém começou a crise e não foi Sócrates. As coisas vêm detrás, especialmente no caso português que é já endémico. Sócrates limitou-se a agravar o que estava já mau. Como todos antes fizeram o mesmo, com a excepção do primeiro mandato de Guterres, no qual não se fez nada, não podes por o ónus da culpa todo em Sócrates.

Pior ainda, no meio disto tudo, e com as trapalhadas de Sócrates, Passos Coelho ainda lhe fez o jeito de lhe dar eleições para ele governar mais 4 anos com medidas de outros ou para ir-se embora sem responsabilidade nenhuma.

Elenáro said...

No meio disto tudo, e tendo nós perfeita capacidade para resolver os nossos problemas, ainda achamos nós, génios da auto-governação, que o FMI/FEEF era uma boa ideia.

Para não variar, ainda não nos livramos do complexo de "o que é de fora é que é bom".

Anabela, se olhares para os indicadores económicos de Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, França, Itália, Japão e podia continuar, vais reparar que nós não estamos piores que eles.

O problema aqui é que eles como estão mal, como têm os seus bancos afogados em empréstimos, precisam que alguém pague a conta por eles.

Divida pública? Divida nacional? Já viste a divida do Japão e há quantos anos é que eles estão assim? Alguma vez ouviste alguém dizer que é preciso ir lá o FMI?

Já viste como estão as contas do Reino Unido? Sabias que o governo de sua Majestade está tão mal que anda a cortar nas forças armadas que nem uns perdidos e houve mesmo quem dissesse que o eles teriam de acabar com as suas forças estratégicas nucleares porque não havia dinheiro para as sustentar?

E os Estados Unidos? Sabias que eles poderão não conseguir pagar o que devem daqui a uns anos por causa dos deficits constantes e do dinheiro esbanjado por Bush?

Compara o deficit e divida pública Francesa com a Portuguesa. Vais reparar que não é assim tão diferente.

E Itália? E Espanha?

Agora explica-me porque é que eles não têm de levar com o FMI/FEEF e nós temos!

Sabias também o que é que a ministra das finanças de Espanha disse quanto à possível entrada do FMI lá? Eu digo-te: FMI nunca!

Nós vamos ter cá o FMI/FEEF porque, ao contrário deles, nós não nos defendemos. Basta aparecer um ilustre estrangeiro a dizer que Portugal precisa de fazer isto ou aquilo que os portugueses batem palmas. Agora diz-me o que faz um britânico, francês ou alemão quando alguém os critica! Aposto como não lhes batem palmas.

Enquanto nós somos peritos em vendermos o corpinho aos estrangeiros, lá fora, eles defendem o que é deles. A culpa disto não é só dos políticos.

Nós vamos, com esta "ajuda", pagar mas é as dividas de franceses e alemães. Nós vamos é subsidiar a recuperação económica deles como já estão a fazer Irlandeses e Gregos.

Dizemos às pessoas que não se deve contrair novos empréstimos para pagar outros antigos. Mas dizemos ao Estado para o fazer e fazê-lo a juros mais altos e em piores condições do que um empréstimo normal.

Isto não é solução, Anabela. Não vamos resolver nada. Só vamos conseguir é ficar ainda pior do que o que estamos.