Hoje é alegria e amanhã?

Uma onda de felicidade varreu e varre a blogosfera. Quase todos rejubilam pela "queda" de Sócrates. Eu gostava de poder rejubilar com a mesma tranquilidade que quase todos mostram. Infelizmente não consigo. Temo muito pelo futuro do país. Temo que a irresponsabilidade politica de quem nunca será governo (sozinho) e de Passos Coelho que se cansou de esperar custará mais ao país do que o que Sócrates custa neste momento.

Repare-se que já se fizeram sacrifícios, os quais não voltarão atrás. Já se pagam e pagarão inevitavelmente juros mais altos pelos empréstimos. Com esta brincadeira, para além dos sacrifícios que já fizemos e daqueles que faremos independentemente do que se passe daqui para a frente, com sorte, ainda iremos pagar os do FMI.

Ao nível governamental, é um risco muito grande eleições neste momento. Nada garante que não seja Sócrates a ser o único com possibilidade formar governo, tal como aconteceu nas últimas eleições. O PS pode descer e o PSD até pode acabar por ser o partido mais votado. A questão é se terá votos suficientes para formar governo coligado com o CDS. É que sozinho, creio que será muito difícil formar governo estável. Se não houver uma maioria estável, um futuro governo PSD cairá tão depressa como caiu o governo PS. Por isso, a coligação PSD-CDS será a única hipótese para haver um governo que não seja PS. Para isto, PSD e CDS terão de ter juntos mais votos que PS, CDU e BE juntos. Isto não aconteceu e, honestamente, duvido que venha a acontecer.

Primeiro, Sócrates ainda tem e terá uma base confortável de votos, quer por militância quer por fugirem de Passos Coelho. Segundo, prevejo que haverá uma polarização dos votos para o CDS, PCP e BE, tal como aconteceu nas últimas sondagens. Também prevejo que a abstenção vai desfavorecer os partidos do centro, que estão ambos desgastados por sucessivos falhanços governativos.

Assim sendo, não obstante a crise económica e financeira e os riscos que correremos nestas duas dimensões com esta coisa de eleições antecipadas, ainda se corre o risco de tudo ficar na mesma ou de acabarmos com um novo governo (PSD) também ele a prazo.

Para mim, o preço de tentar (e ênfase no tentar) tirar de lá Sócrates nesta altura é demasiado caro e cheio de incertezas para, em boa consciência, eu conseguir celebrar esta potencial queda. Potencial porque para já é só isso mesmo, uma mera hipótese.

4 comments:

Wegie said...

Um passarinho caiu do ninho num dia de muito frio. Pia desesperadamente até que passa um menino que o agarra e coloca num monte de estrume ainda quente. O passarinho, quentinho, desata a cantar em louvor do salvador. É então que passa uma raposa que, ao ouvi-lo, pula de contentamento e o devora.
Moral da história.
1º: Nem sempre aquele que te põe na merda te quer mal;
2º: Nem sempre aquele que te tira da merda te quer bem;
3º: Porquê cantar quando se está na merda?

Anabela Magalhães said...

Eu não rejubilo só... eu também estou muito preocupada com o futuro demasiado comprometido que herdamos de 6 anos de incompetência socrática.

Elenáro said...

Uma interessante analogia, Wegie.

Elenáro said...

Anabela, o problema é que a trocar de governo agora desta maneira estamos a arriscar herdar as trapalhadas de Sócrates e ainda arriscamos ficar com a corda ao pescoço por causa da UE. E tudo porque Passos Coelho acha que tem de ser ele a fazer o que Sócrates anda a fazer e ambos aprovaram e acordaram.